“Vivi para ver este dia.” Assim a BBC iniciou um artigo no qual registrou as críticas feitas pelo FMI ao neoliberalismo.
Isso porque o FMI, ao longo da história, sempre defendeu políticas idênticas às do neoliberalismo: foco obsessivo em cortes de despesas (a começar pelas sociais), privatizações e Estado mínimo, para citar algumas delas.
O que o FMI enfim enxergou, com enorme atraso, é que o modelo econômico neoliberal leva à concentração de renda. Os ricos ficam mais ricos e os pobres, bem, os pobres que se danem.
O reconhecimento ainda que tardio do FMI é especialmente importante para o Brasil. Isso porque a equipe econômica de Temer é movida claramente pelo ideário neoliberal.
Ou, para quem prefere outro nome, pelo thatcherismo. Na prática são a mesma coisa, thatcherismo e neoliberalismo.
Ora, ora, ora.
Na própria Inglaterra de Thatcher, o thatcherismo foi repudiado exatamente por levar a uma sociedade desigual e insustentável.
Os conservadores britânicos sequer falam em Thatcher. Não há uma única estátua dela na Inglaterra, sequer em sua cidade natal. As autoridades sabem que, erguida num dia, ela será derrubada no outro.
Não há estátua de Thatcher sequer no Tussauds, o conhecido museu de cera de Londres. É tamanho o ódio a Thatcher que em sua morte uma multidão se reuniu na Trafalgar Square, em Londres, para fazer uma festa. Fui cobrir. Me lembro de um sindicalista que disse que guardou uma garrafa de uísque por quase vinte anos para bebê-la quando a Dama de Ferro morresse.
Pois é exatamente o thatcherismo que Meirelles e time querem que o Brasil adote. É um projeto míope, anacrônico e irresponsável.
Se o thatcherismo não serve sequer a um país socialmente avançado como a Inglaterra, que dizer ao Brasil, um dos campeões mundiais em desigualdade?
O Brasil tem que tomar o caminho oposto.
Sob outra roupagem, sabemos onde vão dar políticas econômicas que beneficiam a plutocracia. Na ditadura, o czar da economia Delfim Netto justificou a concentração de renda dizendo que o bolo tinha que crescer antes para depois ser distribuído. (Delfim nega, mas disse.)
O problema é que, dada a gula dos plutocratas, por mais que o bolo cresça ele jamais é distribuído.
Por tudo isso, a política econômica de Temer não poderia ser mais equivocada. É a receita errada para o país errado. Ela mostra duas coisas ao mesmo tempo: primeiro, a inépcia, a falta de visão e de grandeza de Temer. Depois, a ganância da plutocracia brasileira.
Previsivelmente, os colunistas da grande mídia — os fâmulos dos patrões — não associaram as declarações do FMI ao que vem sendo feito pelo governo interino.
Mas deles não se pode esperar nada mesmo.