Como sairá o bilionário império de mídia de Rupert Murdoch do caso News of the World, o NoW?
Sobreviverá? Se sim, como? De que tamanho?
O buraco parece não chegar ao fim, agora que começou a investigação oficial das atividades criminais do jornal. Para lembrar: aos 168 anos de existência, com uma circulação de 2,6 milhões de exemplares, o NoW foi subitamente fechado por seu dono, Murdoch, na mesma semana em que emergiu a informação de que a redação do jornal invadiu a caixa postal de uma menina de 13 anos que estava desaparecida. Mensagens foram deletadas para que outras pudessem entrar – o que poderia gerar furos para o tablóide. Quando os pais da garota souberam disso, ficaram esperançosos de que ela estivesse viva. Não estava. A sociedade inglesa, ao tomar conhecimento do abismo ético a que o NoW chegara, se revoltou.
O resto – a começar pelo fim súbito e espetacular do jornal – já é história.
Agora a investigação a cada dia traz mais barbaridades à tona. Uma mulher que era agente da supermodelo Elle Macpherson foi vítima de uma bala perdida. O jornal estava monitorando a caixa postal de Elle. Quando começaram a ser publicados fatos da vida privada de Ellen, ela achou que sua agente estava vazando coisas para o NoW. Por dinheiro: os tablóides compram furos. Elle, segundo o relato da agente, atribuiu a deslealdade à bebida e instou-a a se internar numa clínica de reabilitação. Ela própria, Elle, tinha passado por uma delas. Para salvar o emprego, a agente se internou numa clínica. Na volta, foi despedida.
Agora ela quer ser indenizada pelo jornal. Fatalmente será.
Um caso semelhante aconteceu com a atriz Siena Miller. Ela depôs ontem. Sienna foi uma das pessoas que, antes que eclodisse o escândalo, fizeram um acordo extrajudicial com o NoW, pelo qual ela recebeu o equivalente a 300 000 reais. Sienna contou que certa vez foi publicada uma informação da qual, fora ela mesma, apenas quatro pessoas tinham ciência. A atriz reuniu o quarteto e disse que alguém ali a estava traindo. Ela se sentiu “terrivelmente mal” quando soube que ninguém fora desleal. Simplesmente o NoW estava bisbilhotando seu celular.
O jornal, de acordo com cálculos preliminares, raqueou caixas postais de 4 000 pessoas, na busca insana e criminosa de furos.
O dano à imagem , ainda que monumental, tende a não ser o maior problema para a News Corp, o conglomerado multinacional e multimídia de Murdoch. O dinheiro necessário para pagar todas as indenizações pode ser simplesmente letal.
Muita gente torce para que isso aconteça. Há muito tempo não existia um barão da mídia tão universalmente detestado quanto Murdoch.
Sei bem que as pessoas não gostam de nós, jornalistas. Acham que somos inconfiáveis, arrogantes, mentirosos — e muitas vezes estáo certas.
Mas, perto de Murdoch, somos amados.
A maior questão que emerge do caso NoW é: até onde o jornalista pode ir na busca de um furo.
A resposta: longe — mas desde que não cometa um crime. O jornalista não está acima da lei.