Torcidas organizadas dos principais clubes de futebol de São Paulo se juntam às forças políticas e movimentos sociais em torno da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ato público previsto para a manhã deste sábado (20), na Praça Roosevelt, região central da capital paulista. A concentração está marcada para as 9h. Após as manifestações, o grupo seguirá em caminhada até o Vale do Anhangabaú, onde engrossará o público presente ao comício da campanha Vamos Juntos Pelo Brasil, marcado para as 11h.
Os representantes das torcidas destacam o caráter “pluriclubista e suprapartidário” da mobilização. “Em meio a esse cenário de efervescência e da necessidade da resistência, os coletivos passaram por um processo acelerado de amadurecimento. Se antes era difícil juntar rivais por uma causa em comum, hoje estamos habituados a ocupar as ruas lado a lado, marchando na mesma direção, por um Brasil justo, democrático e soberano”, afirmou à RBA um dos organizadores do ato, Felipe Bianchi, do coletivo de palmeirenses Porcomunas.
As bandeiras de rivais no futebol agora convergem por um objetivo comum, como explica Bianchi. “Temos a compreensão de que não precisamos vestir as camisas uns dos outros para, cada um com suas cores e bandeiras, remarmos na mesma direção. Parece simples, mas nem sempre foi. E essa direção, hoje, é derrotar o bolsonarismo, elegendo um governo democrático e popular que nos retire da defensiva para voltarmos a reivindicar nosso protagonismo.”
Entre os coletivos que participam do ato deste sábado estarão: Bloco Tricolor Antifa, Coletivo Democracia Corinthiana, além do Porcomunas. Também irão outras organizações ligadas ou não aos esportes, como o Pedalula (ciclistas), Caminhantes e Corredores por Lula Presidente, Anatorg e Vozes da Leste.
Ameaças à democracia
A também organizadora do ato, Fátima Sanchez, do Bloco Tricolor Antifa, ressalta a urgência da união neste momento, e da superação das divergências. “A leitura que o Bloco Tricolor Antifa faz neste ano eleitoral atípico, é que se trata de um cenário conturbado, desafiador e ameaçador da democracia nacional”, afirma. “O mandato genocida de Bolsonaro foi responsável pela pior gestão da pandemia de acordo com especialistas do Brasil e do mundo, causou um estrago imenso na confiança e cobertura vacinal do país, levando milhares de pessoas a desacreditar das vacinas, provocando baixa na porcentagem de vacinação contra sarampo e poliomielite, por exemplo”, completa a torcedora do São Paulo.
Os organizadores reforçam a postura pluripartidarista do movimento, já que muitos dos componentes não apoiam necessariamente o ex-presidente Lula. Contudo, o momento exige atitude. “Obviamente gostaríamos de uma candidatura ‘pura’ de esquerda, porém compreendemos que o momento necessita de alianças articuladas com setores que combatemos e discordamos (…) Não nos isentamos da responsabilidade e importância de fazermos uma construção de pautas que entendemos essenciais do campo da esquerda se esta for a chapa eleita. Precisamos garantir, antes que mais nada, a manutenção e continuidade de nossa democracia, que hoje sofre ameaças e ataques todos os dias pelo genocida e sua corja”, explica Fátima.
‘Oportunismo calhorda’
A presença dos torcedores em ato de apoio à candidatura de Lula faz também contraponto ao uso frequente de Bolsonaro de camisas de clubes tradicionais do futebol brasileiro para passar uma “imagem popular”. Quando, na prática, governa como representante de setores da elite como o agronegócio e empresários aliados.
O palmeirense Felipe Bianchi comenta, inclusive, de como o presidente adotou, supostamente, o chamado Alviverde como seu time em São Paulo, em oposição a Lula, corintiano declarado desde sempre. “É flagrante a tentativa de Bolsonaro de tentar copiar Lula para parecer popular. Escolher o Palmeiras para ser seu suposto time do coração é uma prova disso, para se opor a Lula.”
O ativista classifica a postura do presidente como “oportunismo calhorda, ao vestir as camisas de uma centena de clubes para fazer politicagem barata (…) O ‘capitão’ é um impostor! E é também por isso que os coletivos alviverdes, como Porcomunas, Palmeiras Antifascista, Palmeiras Livre, Palestra Sinistro e Porco Íris se esforçam para desmascarar Bolsonaro. Ele reforça uma visão deturpada da história do Palmeiras, clube construído por imigrantes e que tanto lutamos para que seja de todos e todas”, completa.
Torcidas e lutas populares
Fátima e Felipe recordam que a união das torcidas em torno de questões políticas relevantes passou a ser mais constante após o golpe parlamentar contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016. “Desde 2016 vivemos golpes contra a democracia e contra a classe trabalhadora. E desde 2018 vivenciamos sérias ameaças antidemocráticas, desde que o genocida passou a liderar as pesquisas eleitorais. O que torna o processo eleitoral de 2022 um momento crítico, determinante para a manutenção da democracia. E também primordial para a reconstrução das instituições democráticas, que sofrem ataques cotidianos da corja bolsonarista que chegou ao poder pelos mesmos mecanismos democráticos que atacam”, afirma a torcedora e ativista.
“O interessante desse bloco formado pelos coletivos de torcedores para o comício do dia 20 é que ele é resultado de um processo iniciado, justamente, no contexto do golpe midiático, judicial e parlamentar de 2016”, acrescenta Felipe. “Da vitória de Dilma Rousseff em 2014 ao início do processo de impeachment, os coletivos de torcedores começaram a ganhar força. Consolidado o golpe, o cenário foi de total regressão, com retirada de direitos, aumento vertiginoso do desemprego e queda da renda, o que também afetou e muito a vida dos torcedores e torcedoras. Nesse caldo entre militantes organizados e torcedores sensíveis às lutas do povo trabalhador, nasceu esta construção rica e vibrante entre torcedores que transcendem a rivalidade para disputar corações e mentes em defesa de que uma vida digna seja costume no país.”
Eleições legislativas
O integrante dos Porcomunas lembra que, além de combater o bolsonarismo na esfera do Executivo, é essencial que as próximas eleições resultem em bancadas também progressistas nos Legislativos do país e em Brasília. “Reiteramos também a importância de elegermos governadores, deputados estaduais e federais, assim como senadores de esquerda, alinhados com a classe trabalhadora e que defendam a Constituição Federal e legislem pela ampliação de direitos, que garantam condições melhores para o povo brasileiro. A luta agora é pra eleger o Lula no primeiro turno. Isso feito, certamente estaremos dia a dia atentos e cobrando os passos progressistas dele e do seu vice (o ex-governador Geraldo) Alckmin.”
Texto originalmente publicado em REDE ATUAL BRASIL.