Por Edward Magro
Aconteceu ontem na avenida Paulista a missa de corpo presente do ex-presidente e futuro-presidiário Jair Bolsonaro.
A missa foi organizada e celebrada pelo histriônico empresário da fé Silas Malafaia. Com um altar composto exclusivamente por militantes da extrema-direita, a missa também foi usada para lançar, ao seu público radicalizado, vários possíveis sucessores, que durante toda a cerimônia de encomenda do corpo, disputavam a alça do caixão.
Teve reza e choro da viúva – resgatada de uma longa temporada de distanciamento do futuro-presidiário.
Como boa atriz, foi treinada nos altares de igrejas neopentecostais, usou o seu tempo de choro para manter a ordem unida dos devotos do bolsonarismo para uma guerra santa que implemente um evangelistão no Brasil.
O discurso do morto-político, pra variar, não decepcionou e nos brindou com mais uma brilhante pérola do anedotário brasileiro.
Prestes a ser preso lançou uma ideia genial, que só poderia ser concebida por um gênio da genialidade dele: “STF dê anistia a todos os golpistas – inclusive a mim mesmo -, que eu passo uma borracha no passado”. A única imagem que me vem à cabeça é a de um condenado durante a Revolução Francesa, com a cabeça na guilhotina tentando convencê-la a não lhe cortar a cabeça com um prosaico argumento: “Madame Guillotin, se a senhora não cortar a minha cabeça, prometo não estragar o fio da sua lâmina”.
Sabedores de que o eleitorado bolsonarista está disponível para ser arregimentado, os discursos de todos os outros oradores, mesmo mediados pelo medo da prisão iminente, seguiram a tônica do desprezo às instituições de Estado e desrespeito à democracia, empacotados em teorias conspiratórias; em resumo, todos os outros oradores falaram aquilo que o público presente à missa queria ouvir.
Era perceptível que os oradores usaram o altar para se lançarem como o mais confiável pastor das ovelhas que estão desamparadas pela prisão de Bolsonaro.
A temporada de caça-e-mata-mata entre eles está aberta, o que, de resto, foi a única boa notícia do dia.
O público presente à missa foi muito menor do que eles esperavam – A USP disse que havia 185 mil, quando eles esperavam entre 700 mil e 1 milhão -, mas bem maior que o desejável.
O fascismo é, antes de tudo, um movimento de massas e, por isso, não é prudente subestimar a atual capacidade de mobilização da extrema-direita brasileira.
Bolsonaro está morto, no entanto o fascismo continuará nos incomodando por um bom tempo.
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