Neste primeiro dia de Dezembro, completam-se três anos da violenta ação policial no Baile da DZ7, em Paraisópolis, na periferia paulistana, que deixou nove mortos e dezenas de feridos.
Perderam a vida Marcos Paulo Oliveira dos Santos, de 16 anos; Bruno Gabriel dos Santos, de 22 anos; Eduardo Silva, de 21 anos; Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos; Mateus dos Santos Costa, de 23 anos; Dennys Guilherme dos Santos Franco, de 16 anos; Gustavo Cruz Xavier, de 14 anos; Gabriel Rogério de Moraes, de 20 anos; e Luara Victoria de Oliveira, de 18 anos.
Familiares e movimentos populares convocaram uma série de atividades em memória das vítimas, exigindo verdade, justiça e reparação. Nesta quinta-feira, 1º de Dezembro, haverá uma concentração na Praça da Sé, no centro de São Paulo, a partir das 15 horas. Na sequência, às 17 horas, o Padre Júlio Lancellotti celebrará uma missa na Catedral Metropolitana.
No dia 3 de Dezembro, sábado, será realizada uma caminhada, com saída marcada para 14h30, do Metrô Capão Redondo, com destino ao Hospital Campo Limpo, instituição que recebeu os corpos dos jovens em 2019. Está programada uma performance do Coletivo Periferia Segue Sangrando.
De acordo com as famílias, há uma série de inverdades nas justificativas dos policiais. Segundo elas, as investigações revelam que as mortes não foram acidentais, tampouco ocorreram como resultado de pisoteamento, conforme versão do comando da tropa.
Testemunhas confirmam a narrativa dos familiares. Vídeos produzidos por moradores também mostram que não houve conduta violenta ou resistência por parte dos jovens. Por fim, imagens e registros de áudio provam a omissão de socorro às vítimas.
Essa versão é corroborada por um documentário produzido, no ano passado, pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense da Universidade Federal de São Paulo (CAAF/Unifesp), pelo Núcleo Especializado de Infância e Juventude (NEIJ) e pelo Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos (NECDH) da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, em parceria com os familiares das vítimas.
O material apresenta os resultados de uma análise multidisciplinar da ocorrência e revela como agiu o 16º Batalhão da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) na repressão aos jovens.
As famílias dos assassinados foram indenizadas no fim de 2021. Na esfera processual, doze policiais foram denunciados por homicídio doloso. A primeira audiência do caso está agendada para 25 de Julho do próximo ano.
O protesto de uma mãe
Em 2019, na época do massacre, Denys Henrique Quirino da Silva tinha 16 anos, cursava o primeiro ano do ensino médio e trabalhava duro em uma empresa que limpava sofás, tapetes e cortinas. Morando no Bairro do Limão, ele também se preparava para virar sócio da mãe em uma empresa de assistência técnica para aparelhos de refrigeração.
No dia 1º de Dezembro, sem alarde, foi curtir uma festa com os amigos, um baile funk em Paraisópolis, do outro lado da cidade. Garoto estiloso e piadista, nunca quisera nada com a violência. E não soube lidar com ela quando a Polícia Militar resolveu investir duramente contra os jovens.
Eram oito da manhã quando Maria Cristina Quirino Portugal, já desesperada com o atraso do filho, recebeu uma ligação do Hospital de Campo Limpo. Pediam o comparecimento de um familiar. Denys era uma das nove vítimas fatais da desastrosa ação das forças da lei.
“Além da sensação de vazio, fica essa vontade nossa de fazer prevalecer a verdade e desmontar a narrativa mentirosa dos agressores”, desabafa Maria Cristina. “Espero que a morte do meu filho não tenha sido em vão, e que as autoridades modifique as leis e a conduta das forças policiais”.