Relatório sobre os ataques terroristas de 8 de janeiro afirmou que o acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército em Brasília foi central para o ato. O documento ainda aponta falha operacional das forças de segurança durante o episódio.
O material do interventor da Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, é o início do apontamento de responsabilidades no caso. O documento foi entregue a Flávio Dino, ministro da Justiça, e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O relatório possui imagens e vídeos de câmeras de segurança da Esplanada dos Ministérios e de drones da Polícia Militar.
“Há centralidade nele [QG do Exército], em tudo aquilo que aconteceu, que culminou no dia 8. Todos os atos de vandalismo que aconteceram na capital federal passaram, tiveram a sua organização, o seu planejamento, seu ponto de apoio, naquele acampamento, que virou um centro de construção de planos contra a democracia brasileira. Acampamento não tem cozinha montada, não tem infraestrutura como tinha: de banheiros químicos, geradores. Você tinha toda uma estrutura montada, em uma verdadeira minicidade golpista, terrorista, montada em frente ao QG do Exército”, diz Cappelli.
No documento do interventor, há um relatório do setor de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Nele, a pasta aponta que foi convocado um movimento de “Tomada do Poder” no dia 6. “As divulgações apresentam-se de forma alarmante, dada a afirmação de que a ‘tomada de poder’ ocorreria, principalmente, com a invasão ao Congresso Nacional”, diz a secretaria.
O alerta foi entregue a Anderson Torres, então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, dois dias antes do ataque, mas foi ignorado. Não houve planejamento prévio ou efetivo mobilizado no dia da invasão da Praça dos Três Poderes.
O acampamento estava quase vazio na ocasião, mas voltou a encher na véspera dos ataques. Nos dias 7 e 8, havia cerca de quatro mil pessoas no local.
“Não houve sequer ordem de serviço, apenas um memorando encaminhado – e esse memorando não acionou, inclusive, batalhões. Nem chegou a batalhões importantes, como o batalhão do BPcães, BAvOp, RPMon, e até mesmo o Bope. Esses não foram sequer acionados. Então, há uma falha operacional. Por quê? Porque o relatório de Inteligência que existe, ele não gera o desdobramento operacional adequado – que seria um plano operacional ou uma ordem de serviço com um plano detalhado”, aponta Cappelli.