As urnas gritaram neste final de semana também na Alemanha de Angela Merkel. A mensagem foi exatamente a mesma da França uma semana antes: chega de administrações que mimam os ricos.
“A social democracia volta a ter relevância na Alemanha”, era uma das manchetes da Der Spiegel em seu site em inglês hoje pela manhã. O Partido Social Democrata alemão – de centro esquerda, como os socialistas franceses que retornaram ao poder com François Hollande – venceu no domingo com ampla margem as eleições no estado mais populoso do país, a Renânia do Norte Vestfália. Merkel já tem uma rival dura para as eleições nacionais de 2013: a governadora do Estado, Hannelore Kraft, do PSD.
Alguns analistas dizem, equivocadamente, que a Europa está dizendo não à austeridade.
É uma visão míope.
A rejeição real é a administrações que colocam em segundo plano os 99% e favorecem o 1%. Esse tipo de gestão dominou o mundo nas últimas três décadas, com Thatcher de um lado do Atlântico e Reagan do outro.
Como você pode pedir sacrifícios aos 99% quando o 1% não faz nenhum?
Austeridade ou é para todos, ou não é para ninguém. Faz muito tempo que a austeridade vale apenas para os 99%. Corporações e milionários encontram maneiras legais de pagar menos e menos impostos. Recentemente, para ficar apenas num exemplo, o New York Times mostrou que a Apple é tão engenhosa na contabilidade como na criação de produtos. Ao montar escritórios em paraísos fiscais com o único propósito de diminuir a carga devida de impostos, a Apple vem deixando de pagar uma cifra calculada entre 2,5 e 5 bilhões de dólares por ano.
O mundo está cansado disso, e o cansaço se expressa em protestos como o Ocupe Wall Street — e também nas urnas. Sarkozy foi varrido. Merkel, que até há pouco parecia inexpugnável como a voz mais influente da Europa, pode ter também contados os seus dias como chanceler.
Kraft, como Hollande, não quer punir os privilegiados. Quer apenas que eles participem da austeridade.
É justo.