Publicado originalmente no De olho nos Ruralistas
Por Leonardo Fuhrmann
Autor da emenda substitutiva global que permite a continuação de missões religiosas dentro de comunidades indígenas, o deputado federal Wellington Roberto (PL-PB) é um homem de muitas fés. Já foi do movimento Volta Lula, aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha a ponto de sair no tapa em sua defesa e agora é o líder do Centrão na aproximação com o presidente Jair Bolsonaro. No meio dessas mudanças, se mantém apegado a um dogma: o gosto pelo poder e suas benesses.
O contrabando na votação desta quinta-feira foi feito ao estilo de seu antigo guru, o agora presidiário Eduardo Cunha. A emenda foi incluída em uma série de projetos que tinham o objetivo de resguardar a saúde dos povos indígenas durante a pandemia. Com ela, grupos que estão ilegalmente dentro de áreas indígenas conseguem um argumento para permanecer mais um tempo dentro delas. Para isso, basta uma permissão da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão responsável pela saúde indígena. Em muitos estados, assim como a Fundação Nacional do Índio (Funai), já sob influência de missionários evangélicos.
Mais do que incluir um ponto para agradar a bancada evangélica, parte expressiva do Centrão, grupo fisiológico que busca condições vantajosas para manter seu apoio aos sucessivos governos, chamou para si a responsabilidade pelo feito. Assim, consegue ocultar o nome dos verdadeiros interessados na medida. Assim, o deputado galga mais destaque dentro do seu grupo, formado em sua maioria por deputados pouco expressivos e com posição ideológica de ocasião.
Quando Cunha já estava em situação delicada em razão das denúncias de corrupção, Roberto foi um dos aliados que o acompanhou até o final. Para isso, valeu-se até de violência física. Agrediu a tapas o deputado Zé Geraldo (PT-PA), que reclamava da “turma do Cunha” no Conselho de Ética da Câmara. É só uma amostra dos métodos do parlamentar, que inclui o voto de cabresto. Seu filho Bruno Roberto foi preso com dinheiro, contas de luz, água, fraldas descartáveis, brinquedos e panfletos de propaganda eleitoral dentro do carro em Campina Grande (PB), em 2014.
ELE TAMBÉM FAZ PARTE DA BANCADA RURALISTA
Empresário e ruralista, Roberto viu sua fortuna dobrar em vinte anos e chegar a R$ 3,69 milhões. Dono de uma fábrica de cerâmicas, de uma revendedora de automóveis e de uma fazenda de 934 hectares em Baianópolis, no oeste da Bahia, ele teve a política como sua principal atividade no período. Está em seu quinto mandato consecutivo. Antes disso, chegou a Brasília como suplente do senador Humberto Lucena, em meados dos anos 90. Com a morte do titular, acabou terminando o mandato como senador. Sem força política nem votos para disputar uma cadeira no Senado por conta própria, preferiu se abrigar em candidaturas a deputado federal.
Dentro do PL, Roberto tem atuado como braço operacional do chefe do partido, o ex-deputado paulista Valdemar Costa Neto, condenado e preso no escândalo do “mensalão”. Tanto que um nome ligado diretamente a ele ganhou um cargo no governo por conta da aproximação de Bolsonaro com Costa Neto. O advogado Garigham Amarante Pinto foi nomeado, na semana passada, diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do Ministério da Educação. No cargo, ele tem controle sobre um orçamento de R$ 52 bilhões.
No ano passado, o deputado admitiu ter falsificado as assinaturas do senador Jorginho Mello (PL-SC) e de Costa Neto em um documento em defesa do aumento do fundo partidário no Orçamento da União de R$ 2 bilhões para R$ 3,8 bilhões. No ano passado, Roberto também devolveu à Câmara quase R$ 200 mil, depois de ter admitido irregularidades no uso da sua cota parlamentar. Ele usou o dinheiro para abastecer carros particulares em um posto que pertence a um irmão.
Não são os primeiros casos de corrupção em que Roberto é citado. Ele chegou a ser acusado de envolvimento na Máfia das Ambulâncias, em meados da década passada, mas foi absolvido na Comissão de Ética e não chegou a ser denunciado na Justiça. Teve ainda seu nome citado em uma lista de políticos que receberam “presentes” do empreiteiro Zuleido Veras, da Gautama, outro escândalo que envolvia desvio de recursos públicos.
Em 2008, o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) encontrou supostas irregularidades no ressarcimento de despesas médicas do parlamentar. Ele teria recebido pelas duas Casas, como deputado e ex-senador. No Supremo Tribunal Federal também aparece uma petição de uma investigação criminal do Ministério Público do Estado da Paraíba contra Roberto. Nela, o parlamentar era acusado de estelionato, apropriação indébita e desobediência.