As ofensas racistas proferidas a um professor universitário do Espírito Santo poderão custar caro a três internautas.
Uma organização do movimento negro protocolou nesta quinta-feira no Ministério Público Federal notícia-crime denunciando por racismo os autores de comentários pejorativos no link de uma entrevista com o professor Gustavo Forde, da Universidade Federal do Espírito Santo.
Forde, que é doutor em educação e escreveu o livro “Vozes Negras na História da Educação: Racismo, Educação e Movimento Negro no Espírito Santo”, sofreu xingamentos e ofensas racistas depois da postagem no Facebook de sua entrevista ao portal Gazeta Online, em abril, em que falou sobre o racismo institucionalizado e o livro recém-lançado.
A entrevista provocou uma onda de comentários contra o professor, muitos deles fazendo referência à aparência física de Gustavo.
“Olha a aparência desse doutor filósofo, kkkkkkkk. Você já viu esses sociólogos e filósofos sempre mau vestidos, barbas e cabelos todo o imundo parecem que não sabem o que é higiene pessoal (sic)”, escreveu um dos noticiados.
O segundo noticiado mandou o professor, que é brasileiro, voltar para a África, e o terceiro associou a condição de Gustavo enquanto doutor a uma suposta falta de qualidade do ensino universitário. “Não me admira os nossos resultados em exames educacionais”, escreveu.
Para o coordenador do Cecun (Centro de Estudos da Cultura Negra no Estado do Espírito Santo), organização que fez a denúncia, as ofensas são exemplos explícitos do racismo estrutural.
“Hoje um maior número de negras e negros passaram a frequentar as universidades, ensino superior, as conquistas do movimento negro colocaram negros e negras como professores nas Universidades. Isso incomoda os racistas, que estão vendo suas estruturas seculares invadidas por segmentos brasileiros indesejáveis”, explica Luiz Carlos Oliveira.
De acordo com o texto da notícia-crime, as ofensas configuram caso flagrante de segregação, pois se basearam exclusivamente na aparência física de Gustavo Forde. Por serem extensivas a toda uma comunidade, se enquadram no crime de racismo.
Caso sejam condenados, os três noticiados, todos eles homens e brancos, poderão ser submetidos a pena de reclusão de dois a cinco anos.