Publicado no blog do Kennedy
POR KENNEDY ALENCAR
É absurda a falta de cerimônia com que autoridades públicas agiram e agem no caso Marielle. Isso só acontece porque essas autoridades fogem de suas responsabilidades e não cumprem os seus deveres nos cargos que ocupam.
Há suspeita de que o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC-RJ), vazou para o presidente Jair Bolsonaro um segredo de uma investigação sigilosa. Quem acusa é o próprio Bolsonaro, que diz ter sido avisado da citação no caso por Witzel no início de outubro.
No caso do porteiro que citou Bolsonaro, houve perícia de ligações da portaria para moradores apenas ontem. De acordo com a “Folha de S.Paulo”, uma perícia a jato que não avaliou se houve adulteração do material.
Mas a perícia de um apenas dia, que veio à público depois da menção a Bolsonaro, foi suficiente para três promotoras do Ministério Público do Rio se apressarem em inocentar o presidente da República e suscitar suspeita sobre o depoimento do porteiro.
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, que já sabia da citação ao presidente quando encontrou Bolsonaro no Palácio do Planalto, continua firme na missão de confundir conciliação com submissão aos interesses do Executivo. Está ficando feio para o STF, tachado de hienas pelo bolsonarismo, não reagir como instituição às ameaças autoritárias do atual governo.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, e o ministro da Justiça, Sergio Moro, absolveram Bolsonaro e condenaram o porteiro. Há clara tentativa de uso da PF como polícia política, o que é ilegal.
Mas uma coisa está bem clara: quase 600 dias após a morte de Marielle e Anderson Gomes, não há uma investigação séria a respeito do caso. Sobram dúvidas e indagações.
Desde a prisão de Ronnie Lessa em março, as ligações da portaria para moradores não deveriam ter sido exaustivamente investigadas?
Que perícia de um dia foi essa para culpar o porteiro?
Por que o porteiro anotou num documento de controle de entrada que Élcio Queiroz, um dos acusados de matar Marielle e Anderson, estava se dirigindo à casa de Bolsonaro no condomínio na Barra da Tijuca, no Rio?
O que o motorista ganharia mentindo num depoimento sobre o presidente da República?
Marielle, Anderson, seus familiares e o país merecem respostas.