Avião da Voepass passou por nuvens carregadas de gelo antes de cair, aponta análise

Atualizado em 15 de agosto de 2024 às 14:16
Avião da Voepass após queda em Vinhedo. Foto: reprodução

Uma análise de satélite revelou que o avião da Voepass, que caiu na última sexta-feira (9) em Vinhedo, interior de São Paulo, enfrentou condições meteorológicas extremamente adversas antes de sua queda, resultando na morte de todas as 62 pessoas a bordo. A aeronave, um ATR 72-500, voou entre oito e dez minutos dentro de uma formação de gelo severo, uma condição que o manual do fabricante classifica como de “emergência”, podendo causar a perda de sustentação e o giro da aeronave.

De acordo com o Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o avião da Voepass ficou exposto a essa condição por um período considerável.

“É um tempo considerável para uma condição extremamente desfavorável”, afirmou o meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Lapis. Segundo ele, a rota do voo atravessou uma zona crítica, com nuvens a temperaturas abaixo de -40°C, onde a presença de gelo em altos níveis foi significativa.

A análise também apontou que o avião passou por um ciclone extratropical que se formou sobre o Uruguai e o Rio Grande do Sul, além de fumaça de queimadas trazida pelo ar seco da Amazônia, o que contribuiu para agravar ainda mais as condições climáticas.

Essa combinação de fatores criou uma situação em que a água nas nuvens estava extremamente fria e líquida, mas, ao entrar em contato com a aeronave, se aderiu rapidamente às superfícies, comprometendo a aerodinâmica do avião.

A situação se agravou com ventos fortes, que atingiram velocidades de aproximadamente 53 km/h, causando instabilidade adicional ao voo. “Numa alta velocidade, esse molhado pode virar sólido porque mexe na aerodinâmica”, explicou Barbosa.

Destroços do avião da Voepass que caiu em condomínio residencial em Vinhedo (SP). Foto: Nelson Almeida/AFP

Apesar de as condições meteorológicas na superfície parecerem estáveis, os níveis mais altos da atmosfera estavam marcados por ventos intensos, gerando turbulências que representaram um desafio adicional para a tripulação.

O gravador de voz da cabine do avião captou as tentativas desesperadas da tripulação de estabilizar a aeronave. Minutos antes da queda, o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva discutiu a necessidade de “dar potência” ao avião para tentar evitar o desastre.

Cerca de um minuto se passou entre a constatação da perda de altitude e o impacto da aeronave com o solo, tempo durante o qual a tripulação tentou reagir. A gravação termina com gritos e o som do impacto, encerrando as cerca de duas horas de áudio.

A investigação do acidente está sendo conduzida pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), vinculado à Força Aérea Brasileira, que ainda analisa os dados para determinar as causas exatas do acidente. Embora a análise preliminar do áudio da cabine sugira que a aeronave perdeu altitude de forma repentina, ainda não é possível afirmar com precisão o que causou a queda.

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