Avô de Musk era filiado a seita fascista “tecnocrática”, usava “X” no nome e foi expulso do Canadá

Atualizado em 30 de outubro de 2024 às 17:05
JN Haldeman e seu neto Elon Musk

Um político canadense com histórico de atacar imigrantes e minorias, culpar judeus com teorias conspiratórias e defender uma sociedade baseada na tecnocracia até ser expulso do Canadá. Esse é o perfil de Joshua Haldeman, feito pela revista Atlantic. Haldeman é avô de Elon Musk, barão da tecnologia, dono do Twitter, com histórico de interferências políticas em vários países.

A revista norte-americana mergulha na biografia do avô do empresário sul-africano e reconstroi o início da carreira política de Haldeman e as ligações do político canadense com a seita Technology Incorporated.

Tal grupo tinha princípios políticos bizarros: eles acreditavam que o mundo deveria ser governado por um regime totalitário de engenheiros e cientistas sediados na América do Norte; que esses senhores da tecnologia resolveriam todos os problemas da sociedade; e que as pessoas só tinham que trabalhar 20 anos antes de se aposentar.

Fundado na década de 1920, o partido ganhou popularidade durante a Grande Depressão e chegou a ter mais de meio milhão de membros somente na Califórnia.

Outro aspecto sombrio do organização na qual o avô de Musk era filiado: os membros eram conhecidos por números e adicionavam X aos seus nomes: qualquer semelhança com a obsessão de Musk não é mera coincidência. Os partidários usavam roupas e carros cinzas, numa coincidência com o fascismo que surgiria 15 anos depois na Europa.

Com a entrada do Canadá na II Guerra Mundial ao lados dos Aliados, o partido acabou banido e considerado uma “ameaça à segurança nacional”. O Technology Incorporated era contra a entrada do país no conflito. Haldeman acabou julgado e preso por suas atividades partidárias ilícitas.

Este foi o estopim de outros envolvimentos partidários do avô canadense de Musk. Haldeman fez parte do Social Credit Party,  agremiação que espalhava teorias conspiratórias contra os judeus. Uma dessas teorias dizia que Hitler foi alçado ao poder com apoio de ricaços mundo afora – entre eles, judeus. Para Haldeman, o antissemitismo foi uma desculpa dos hebreus para angariar simpatia.

Tal avô, tal neto

“A fruta não cai longe da árvore”, diz o velho ditado. Assim como o avô Haldeman, Musk propõe resolver algumas mazelas do mundo com a tecnocracia.

Musk já defendeu em seu X que “Marte deveria ser uma colônia da Terra guiada pela tecnologia”. O empresário também batizou seus filhos com combinações esdrúxulas de números e letras, ao modo do partido fundado por Haldeman no Canadá cem anos atrás.

Musk também já se envolveu em polêmicas por declarações racistas contra judeus. Apesar de se dizer “pró-semita”, espalhou teorias da conspiração contra o banqueiro húngaro George Soros, “um destruidor da civilização ocidental”, de acordo com Musk – Soros é de origem judaica e sua família esteve priosneira em um campo de concentração nazista.

Quando aportou na África do Sul, Haldeman tornou-se entusiasta de outro regime de exceção: o apartheid. “A África do Sul vai ser a liderança branca do mundo”, escreveu Haldeman em um jornal do país.

Avô materno de Musk, Haldeman era também um quiroprata de origem norte-americana antes de mudar-se para o Canadá e depois para a África do Sul.

Haldeman casou-se com Wyn Fletcher, uma professora de dança sul-africana e tiveram três filhos. Maye Musk, uma dessas crianças, é mãe de Elon Musk.