Publicado no Brasil de Fato
POR VANESSA GRAZZIOTIN
Antes de entrar no assunto que me move a publicar a coluna desta semana, registro que o nosso país já conta com quase 89 mil óbitos e nos aproximamos dos 2,5 milhões de pessoas infectadas por coronavírus. Apenas um registro para destacar a necessidade que temos ainda de cuidar da saúde das pessoas, de nós todos e todas individualmente continuarmos mantendo, na medida do possível, o isolamento social a fim de preservar vidas.
Mas o que me espanta e é sobre o que eu quero falar nesta semana diz respeito àquela obscura operação realizada entre o Banco do Brasil e o banco privado BTG Pactual. O banco BTG Pactual, foi, na década de 1980, criado pelo próprio Paulo Guedes, atual ministro da economia do governo de Jair Bolsonaro e ainda um dos proprietários do banco.
Uma operação de venda de uma carteira e crédito pelo Banco do Brasil ao BTG. Uma venda que aconteceu, segundo denúncias, sem concorrência e sem a mínima transparência.
O Banco do Brasil simplesmente vendeu uma carteira de crédito, que significa um conjunto de empréstimos contratados por um conjunto de clientes do banco, que ainda não foram quitados. Então, quando o Banco do Brasil vende esta carteira, ele vende um monte de créditos para um banco privado, possibilitando ao BTG Pactual a negociação do recebimento dos valores a serem recebidos.
Segundo as notícias divulgadas, o valor da carteira de crédito é de, precisamente, R$2,9 bilhões. E o Banco do Brasil teria vendido esta carteira de quase R$3 bilhões por R$371 milhões. E isso, sem descontar os impostos. Ou seja, o Banco do Brasil receberá em torno de R$300 milhões, o que é algo extremamente grave e principalmente diante de uma negociação suspeita, sem qualquer transparência e que nunca ocorreu antes na história do Banco do Brasil.
O que o Banco do Brasil fazia era negociar, individualmente, determinadas dívidas. Mas nunca uma carteira inteira. Os compradores, no caso o BTG Pactual, terão um lucro ainda não estimado, mas certamente um grande lucro porque ficará com esta diferença entre o que ele pagou e o que ele vai receber das pessoas ou empresas que tenham dívidas perante o Banco do Brasil.
Internamente, segundo notícias de sindicalistas, o ambiente no Banco do Brasil é muito pesado, porque não é admitido qualquer tipo de questionamento vindo dos servidores e funcionários do banco. Porque a partir do momento em que questionam esta operação, eles são intimidados e até mesmo ameaçados.
E isso é muito grave e vai além desta operação que pode dar ao Banco do Brasil um prejuízo significativo. Isso é muito grave porque mostra o avanço do projeto de privatização do Banco do Brasil, encabeçado pelo governo Bolsonaro, sobretudo com a figura de Paulo Guedes.
Eles estão privatizando uma parte do Banco do Brasil e, com um prejuízo enorme, vendendo um grande valor por preço de banana, como diz o ditado popular.
Então é extremamente prejudicial estas ações da direção do Banco Brasil e do governo Bolsonaro contra este banco público que faz parte da nossa história. E tudo isso irá prejudicar fortemente o desenvolvimento nacional, não só o desenvolvimento econômico, mas também o desenvolvimento social e principalmente a agricultura familiar, que hoje se mantém com ação do Banco do Brasil. Não há nação forte sem que esta nação tenha um banco público forte.
Então, apesar da mídia tradicional não dar esta notícia, as denúncias são tão fortes que moveram o Banco do Brasil a soltar uma nota que diz que houve processo de concorrência – mas não mostram resultados – e avaliação da venda da carteira de crédito por uma consultoria externa da Pricewaterhouse Coopers. Ou seja, não há nenhuma transparência.
Portanto, creio que seja extremamente necessária a investigação deste caso, que não é apenas um caso. É um absurdo cometido pelo governo federal, um crime cometido por Jair Bolsonaro, que é entregar a um banco privado pertencente ao ministro da Economia, Paulo Guedes, uma carteira tão valiosa num valor tão pequeno.
Esta é uma operação gravíssima, porque é parte e sequência das ações entreguistas do governo Bolsonaro, de privatização do Banco do Brasil.