Por Luan Araújo
Um passo maior que a perna pode causar um caos enorme e um clima terrível em quem não tem nenhuma culpa no cartório. É basicamente isso que vem acontecendo no Grupo Bandeirantes de Comunicação, tanto em sua sede em São Paulo, quanto nas emissoras afiliadas.
Na última semana, o grupo realizou inúmeras demissões em todas as áreas em que atua (TV aberta, fechada, rádios e portais). Oficialmente a empresa não se manifesta, mas, de acordo com profissionais da empresa dispensados e outros que continuam na companhia, o clima é de total insegurança, com demissões ocorrendo todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos e em todos os horários, até de madrugada.
Em conversas com a reportagem do DCM, funcionários relatam que o clima é diferente de antes do projeto de Fausto Silva, quando a emissora mostrava um crescimento interessante, tomando atrações de outras emissoras, com destaque para a Fórmula 1, que era da Globo há quase 40 anos.
Hoje, ninguém tem mais seu emprego garantido, desde produtores com salários pequenos até figurões como Milton Neves, que viu seu “Terceiro Tempo” ser cancelado.
O clima nos corredores da Band, além de choro, é de revolta. E o motivo dessa revolta é o projeto “Faustão na Band”, um retumbante fracasso de audiência que teve investimento na casa de R$ 100 milhões de reais à emissora dos Saad.
O programa mais atingido pela onda de demissões foi o “Brasil Urgente”, de José Luiz Datena, que perdeu cerca de 20% de sua equipe de produção. O tradicional helicóptero que fazia cobertura em tempo real nas tardes paulistanas foi vendido.
Produtores demitidos dizem que, no ato de suas dispensas, são citadas as “aventuras financeiras” pelas quais o grupo passou como motivos dos desligamentos.
Em nota de repúdio contra o passaralho “velado”, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) diz que “jornalistas foram demitidos em diversas praças no interior do estado, inclusive profissionais com larga experiência.
O programa “Bora São Paulo”, que era feito com participação de praças do interior do estado, saiu da grade. Com isso, a sociedade perde informação e os jornalistas, seu ganha-pão”.
Disputa entre irmãos
Além da dívida deixada pelo programa de Fausto Silva (que deve sair da grade até o final de julho), a disputa ferrenha pelo poder na emissora pelos cinco irmãos Saad (Márcia, Marisa, Maria Leonor, Ricardo e o atual presidente do grupo, Johnny) levaram a Band a ter uma dívida de mais de R$ 1 bilhão em 2019.
Os quatro irmãos de Johnny, que são sócios igualitários do grupo, defendem a saída do atual presidente do cargo. Mas isso não deve acontecer até 2026, quando acaba seu mandato.
Em meio à megalomania do projeto fracassado com Fausto Silva e a disputa desenfreada dos herdeiros de João Jorge Saad (1919-1999), funcionários que desempenham bem seu papel vivem a cada dia com a incerteza de terem seus empregos mantidos.