Baseados no Mossad, Globo e Guga Chacra querem que Brasil rompa com Irã: os buracos no caso Hezbollah

Atualizado em 8 de novembro de 2023 às 21:19
Militantes do Hezbollah durante funeral de combatente morto em bombardeio de Israel. Foto: Hassan Ammar/AP

A história do suposto atentado terrorista que estaria sendo tramado no Brasil tem — peço perdão pelo clichê — mais buracos que um queijo suíço.

O Mossad, o lendário serviço secreto de Israel, pela primeira vez usou os perfis do primeiro-ministro Netanyahu nas redes sociais para contar que frustrou “um ataque terrorista no Brasil, planejado pela organização terrorista Hezbollah, dirigida e financiada pelo Irã”.

“Esta era uma rede extensa que operava em outros países. O Mossad agradece aos serviços de segurança brasileiros pela prisão de uma célula terrorista que era operada pelo Hezbollah para realizar um ataque a alvos israelenses e judeus no Brasil”, segue a nota.

“Tendo como pano de fundo a guerra em Gaza contra a organização terrorista Hamas, o Hezbollah e o regime iraniano continuam a operar em todo o mundo para atacar alvos israelenses, judeus e ocidentais”.

A Polícia Federal cumpriu dois mandados de prisão temporária e 11 de busca e apreensão em Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal.

“Os recrutadores e os recrutados devem responder pelos crimes de constituir ou integrar organização terroristas e de realizar atos preparatórios de terrorismo, cujas penas máximas, se somadas, chegam a 15 anos e 6 meses de reclusão”, informa a corporação.

A Globo deu a notícia em primeira mão, com exclusividade. O resto da imprensa seguiu bovinamente atrás. A fonte? O Mossad, que entregou a coisa de bandeja para César Tralli, o receptador dos vazamentos da PF. Sem checar nada, como de costume, César mandou bala. É o imortal método Lava Jato.

Ou seja, mais uma vez, como admitiu Jorge Pontual, temos “a versão de Israel”. Na GloboNews, Julia Duailibi, Octávio Guedes e Guga Chacra, visivelmente constrangidos, tinham que se virar para descascar aquele pepino.

As perguntas óbvias: o que diabos o Hezzbollah e seu líder Hassan Nasrallah ganhariam explodindo uma sinagoga no Brasil? O que o Irã, amigo do Brasil, ganharia com essa bomba?

Então o Mossad, que não detectou o maior ataque já sofrido por Israel dentro de seu próprio território em 7 de outubro com o Hamas, a partir dos vizinhos em Gaza, descobre células terroristas no Brasil?

Como sempre, os jornalistas da Globo preferiram a via da covardia demagógica. Ao invés de questionar o interesse do Mossad, preferiram partir para cima do… Itamaraty.

“O Hezbollah não faria ataque no Brasil sem aval do Irã. O Brasil valorizou a entrada do Irã no Brics”, afirmou Guga Chacra, o olhar rutilante. “É algo a se questionar e é para o Brasil romper relações imediatamente, porque isso seria intolerável. É necessário ter cautela e questionar o Itamaraty”.

Sim: é para ter cautela e, simultaneamente, chutar os iranianos imediatamente. Deu para entender?

Ninguém exigiu rompimento diplomático com Israel, sua montanha de cadáveres de crianças e os reféns brasileiros que não conseguem retornar. Com o Irã tem de ser agora! E dane-se se o que o Mossad está falando é verdade ou não.

Em meio ao massacre de civis em Gaza, um espetáculo deprimente aos olhos do mundo, em meio a uma demora estranhíssima para liberar brasileiros, o que temos?

Uma série de atos terroristas desbaratados pelos anjos israelenses. Glória!

Veja mais uma coincidência: neste mesmo dia, o embaixador de Israel se reuniu com Bolsonaro e deputados de extrema-direita para mostrar imagens “inéditas” dos ataques do Hamas

O casamento das duas “narrativas” — o mundo livre bolsorista reunido e o perigo vermelho do Hezbollah — está sendo explorado à farta por gente como o ex-chanceler Ernesto Araújo, que postou um vídeo psicótico sobre o terrorismo islâmico e o “Foro de São Paulo”.

Vale apelar para a memória: em 2016, durante os Jogos Olímpicos no Rio, onze homens suspeitos de ligação com o Hezbollah foram detidos sob acusação de conspirar para realizar ataques.

As prisões foram realizadas como parte da Operação Hashtag nos estados de Amazonas, Ceará, Paraíba, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Uma histeria coletiva. Na ocasião, o então ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, anunciou que o serviço de inteligência do governo identificara mensagens em grupos de Telegram e WhatsApp sobre “atos preparatórios” de terrorismo.

Um dos “extremistas” que a PF meteu em cana era do Rio Grande do Sul. Criava e vendia galinhas no município de Morro Redondo. “Ele não é um bandido. Simplesmente falou com a pessoa errada na hora errada. Passaram esse ‘zap zap’ aí. É um idiota”, falou seu pai.

O “terrorista” morava num sítio com os pais, o avô e o irmão mais novo. Um lugar ermo, sem iluminação nas ruas. Segundo o velho, o rapaz usava o celular para encomendas de galinhas. “Ele estava sempre mexendo naquilo”, disse.

Ninguém sabe do destino dos onze. Foram esquecidos, juntamente com os frangos.

Num artigo antológico sobre a propaganda do governo israelense ao longo de décadas, o maior correspondente do Oriente Médio em todos os tempos, Robert Fisk, escreveu o seguinte: “Muitos jornalistas sabem o que eu sei. Nosso destino foi, é claro, o mais grave dos estigmas: fomos acusados de antissemitismo. Por tudo isso, escrevo aqui, sem medo de errar: agora recomeçarão as mais escandalosas mentiras.”