BBB22: O surto de Natália Deodato não foi por Lucas. Por Nathali

Publicado por
Naian Lopes
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Atualizado em 27 de janeiro de 2022 às 21:36
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Natália do BBB22 chorando
Natália chorou no BBB22

O Big Brother Brasil é um microcosmos das mazelas da vida aqui fora, e é claro que o reality mais popular de um país em que o racismo velado é tão comum que até recebeu o nome de “racismo à brasileira” refletiria essa sua tradição horrenda.

Aliás, a vigésima segunda edição do BBB mal começou e, apesar de apagadíssima no que se refere ao entretenimento, já deu show em matéria de preconceito.

Linn da Quebrada, a segunda travesti da história do programa, sofreu em menos de duas semanas três episódios transfóbicos – isso porque estamos falando de um ambiente vigiado 24h por dia (nota: produção não fez nada).

Ontem foi a vez de Natália Deodato – mulher negra, portadora de vitiligo e manicure da baixada fluminense – sentir o gosto amargo da rejeição ao que está fora do padrão. Além de ter sido votada pro paredão, teve propostas de aliança e investidas de paquera rejeitadas.

E o pior é que isso não é novidade na vida dela: a sister já relatara a colegas de confinamento episódios de rejeição fora do programa. “Eu era boa pra companhia esporádica, mas era sempre abandonada”.

Diante das câmeras, a história se repetiu. Depois de três dias de chove-não-molha com Lucas – um homem medíocre conhecido como “Barão da piscadinha”, só pra você ter noção do nível – Natália surtou ao ver o pretendente beijando outra na festa de ontem. Horas antes, abraçado com a manicure na piscina, ele havia dito que “não queria ficar com ninguém.” (Acho que ele quis dizer com ninguém que não fosse miss).

“Se fosse aqui fora, Lucas pegaria Natália no sigilo e Eslovênia na frente dos outros”, escreveu uma internauta no Twitter, cirúrgica. A solidão da mulher negra é real e quem se recusa a enxergar as intercorrências da questão racial em situações como esta é no mínimo desonesto intelectualmente.

Além da queda, o coice: a mulher virou meme porque surtou em rede nacional ao ver o boy com outra. O que foi tratado por gente sem empatia como mera dor de cotovelo é, pra quem está disposto a ver, um gatilho terrível pra essa mulher vinda de tantas rejeições.

Quantas vezes na vida ela já deve ter visto um crush assumindo uma mulher branca depois de dizer que não queria namorar ninguém? Quantas mulheres negras já viveram a mesma coisa e se viram na dor de Natália?

Enquanto isso, aqui fora, vazam vídeo íntimo da participante, que vira chacota nas redes sociais. O principal suspeito é o ex-namorado. Ser ao mesmo tempo rejeitada, exposta e condenada por fazer sexo não é motivo suficiente pra surtar em rede nacional?

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O choro de Natália não foi por Lucas, um homem mediano, meio burro e sem muitos atributos. O choro foi pelo lugar que é relegado a mulheres como ela em países como o nosso. Eu também tenho minhas ressalvas com uma mulher negra bolsonarista – e desejo que ela seja eliminada com toda a corja de bolsominions que a globo escalou pra esse elenco.

Mas isso não muda o fato de que Natália Deodato representa a triste estatística da solidão da mulher negra em um país cruel com gente como ela – e mesmo que ela tenha apertado 17 nas urnas, me perdoe quem puder: meu coração de mulher dói junto com o dela.

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