Bebianno demitido por “desaforo íntimo”. Íntimo até agora. Por Fernando Brito

Atualizado em 18 de fevereiro de 2019 às 19:47
Jair Bolsonaro e Gustavo Bebianno. Foto: AFP

Publicado originalmente no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

Já estou velho e, na política, bem velho mesmo.

Já vi alegarem-se, cem vezes, “razões de ordem pessoal” ou de “foro íntimo” para auxiliares pedirem demissão, cobrindo com gentileza e recato as diferenças com o “chefe”. É-lhes oferecida, até, a oportunidade de serem exonerados “a pedido”, para que a encrenca disfarce os ares de briga.

Mas demissão em que a autoridade que demite alegue “motivo de foro íntimo” para a degola, francamente, é a primeira vez.

A verdade é que Jair Bolsonaro, desde o “mentiroso”  lançado às redes sociais, foi quem expôs as vísceras das desavenças com seu ex-braço direito.

Não lhe ofereceu, sequer, como nos tempos de Hitler, uma Lugger embalada para por fim à própria vida política.

O vídeo que postou, minutos atrás, agradecendo o empenho de Gustavo Bebianno na campanha de 2018, com cara de poucos amigos e voz endurecida pela leitura de um texto, se por acaso é a paga de algum acordo com o ex-auxiliar,  seria baratíssimo politicamente.

O movimento das peças no tabuleiro, tal como aconteceu na semana passada, é de Bebianno. É ele quem decide o grau de dano que irá causar ao ex-capitão, se aberto ou sussurrado.

Bolsonaro deixou de lado a primeira regra do combate: não humilhar o derrotado.

Como, porém, fez a concessão de agradecer, falso e hipócrita, ao “morto”, fez ainda pior: degradou a exibição de seu poder.

Jair Bolsonaro tem a faixa presidencial, a caneta Bic, o poder e apoio político dos seus incondicionais.

Para o restante, e o restante é muito, amolambou-se.

Não mostrou força, clareza, decisão, ousadia. Mostrou grosseria, vacilação e, sobretudo, medo do que Bebianno viesse – ou venha – a dizer.

Bolsonaro perde, alem de imagem, o seu interlocutor político com uma peça-chave no seu processo de vida ou morte para aprovar uma reforma previdenciária “pesada”, porque o único civil que remanesce no Planalto, Onyx Lorenzoni, é pessoa com notória dificuldade de trato com Rodrigo Maia, presidente da Câmara.

O rosto que apareceu no vídeo que a Globonews reproduziu era o de um homem tenso e amedrontado, quase que cumprindo um papel de se pronunciar, não o de defender os seus atos.

Assista e confira: