Bebianno, o líder ferido que Carlos Bolsonaro está largando na estrada. Por José Cássio

Atualizado em 13 de fevereiro de 2019 às 16:57
Carlos e Jair Bolsonaro: ao expor o aliado publicamente correm o risco de também saírem chamuscados (Foto: reprodução)

Carlos Bolsonaro, o número 01 de Jair, virou sua metralhadora giratória em direção ao aliado e desafeto Gustavo Bebianno, secretário-Geral da Presidência, após ele dizer que teria conversado três vezes com o presidente sobre a denúncia de ‘candidaturas laranjas’ do PSL na eleição do ano passado.

O vereador do Rio de Janeiro não apenas desmentiu Bebianno como publicou um áudio em que Bolsonaro diz ao secretário-Geral que não falará com ninguém.

Não satisfeito, o filho do presidente voltou à carga no Twitter:

“Não há roupa suja a ser lavada”, escreveu. “Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebianno o assunto exposto pelo O Globo como disse que tratou”.

A chance desse discurso ter sido combinado com o pai é uma quase certeza.

E é aí que mora o perigo.

Bebianno é aliado de longa data dos Bolsonaros. Seja como presidente do partido ou coordenador de campanha, convive na intimidade da família e, portanto, conhece detalhes das práticas adotadas pela turma.

Por que, então, a estratégia de expor o assunto publicamente de forma tão violenta, lançando o aliado à própria sorte no momento em que está bem fragilizado?

Não foi assim que Carlos e Jair agiram nos piores momentos de Flávio Bolsonaro, cujas irregularidades praticadas, convenhamos, são infinitamente maiores que as de Bebianno – não bastassem os funcionários laranjas, Flávio é acusado de envolvimento e de ter abrigado em seu gabinete parentes de milicianos suspeitos do assassinato da vereadora Marielle.

Só o ódio pessoal pode explicar o destempero de Carlos neste episódio.

Ele e Bebianno não se falam desde que o filho do presidente deixou a equipe do governo de transição em novembro.

Carlos chegou a ser cotado para assumir a Secretaria de Comunicação da Presidência, mas abandonou a ideia ao ver a possibilidade ser comunicada pelo próprio secretário-Geral.

“Caráter não se negocia. Quando há compulsão por aparecer a qualquer custo, sempre tem algo por trás”, escreveu Carlos no Twitter, à época, reclamando do aliado.

Carlos sempre foi contrário à aproximação de Bolsonaro com Bebianno, por considerar que o advogado teria interesses próprios.

Ok, sem problemas você discordar e perder uma queda de braço pontual. Outra coisa muito diferente é pisar na cabeça de alguém que já está atolado na lama até o pescoço.

Bebianno, após as declarações desta tarde, está com os dias contados no Palácio do Planalto. Sua situação ficou quase insustentável.

Ao repisar o assunto, Carlos só está contribuindo para machucá-lo ainda mais, sem perceber que o resultado de tamanho ódio pode voltar contra si próprio.

“Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”, afirmou Paulo Preto, ex-diretor da Dersa e operador de campanha do senador José Serra quando se viu à própria sorte durante as investigações de corrupção e transferência de recursos do tucano para a Suíça.

Serra, Aloysio Nunes (foi ele quem indicou Paulo Preto ao então governador de SP) e cia correram para acudir o aliado, temendo o que ele pudesse dizer às autoridades.

Gustavo Bebianno é o Paulo Preto dos Bolsonaros.

O melhor conselho neste momento é fazer como os tucanos: guardar o ódio para destilar contra os inimigos e manter um mínimo de civilidade, sob o risco de todos saírem chamuscados.