Betsmania: avanço das apostas nos bolsos dos fiéis acende alerta entre líderes evangélicos

Atualizado em 9 de novembro de 2024 às 16:41
Bets. Foto: Divulgação

A prática de jogos de azar, embora condenada por muitas igrejas evangélicas, tem crescido de forma alarmante entre os fiéis, especialmente em relação às apostas online. A Igreja Universal, uma das maiores denominações evangélicas do Brasil, se posicionou sobre esse problema em um artigo recente, lembrando que a Bíblia já aborda a prática em relatos sobre soldados romanos sorteando a túnica de Cristo após sua crucificação.

Apesar do histórico de condenação aos jogos de azar, a realidade atual é outra. Pastores estão cada vez mais atentos ao fato de que, mesmo com os sermões contra o vício do jogo, muitos fiéis acabam se tornando alvo fácil das apostas virtuais, como o jogo do tigrinho e outras modalidades online.

Pesquisa realizada entre 12 e 14 de outubro de 2024 pelo PoderData, com 2.500 pessoas em 181 municípios, revela dados alarmantes sobre o crescente envolvimento de evangélicos com as apostas online. O estudo aponta que 29% dos evangélicos já participaram de apostas virtuais, enquanto a média geral é de 24%. Entre os católicos, o índice é mais baixo, 22%.

O grau de endividamento também é mais acentuado entre os evangélicos, com 21% dos entrevistados dizendo estar endividados devido a apostas. O número é superior à média geral (16%) e ao índice registrado entre católicos (12%).

Diversos relatos de fiéis em igrejas evangélicas revelam os danos causados pelo vício em apostas. O apóstolo Estevam Hernandes, da igreja Renascer em Cristo, compartilhou o caso de um jovem que perdeu R$ 90 apostando após um jantar com a namorada. O rapaz acabou desesperado e precisou do auxílio dos pais.

O pastor Filipe Scarcella, da Igreja Batista Soul Livre, explicou que muitos evangélicos acabam se envolvendo em apostas online por conta da Teologia da Prosperidade, que propaga a ideia de que Deus recompensa os fiéis com riquezas. Isso cria uma falsa esperança de que o jogo, seja no “tigrinho” ou nas apostas esportivas, seja um atalho para a prosperidade.

Pessoas durante culto. Foto: Divulgação

O mercado de apostas usa um apelo forte ao público evangélico, explorando termos como “profetizou, jogou, sacou”, que fazem referência ao verbo “profetizar”, frequentemente associado a bençãos divinas dentro da religião. A autora Marília de Camargo Cesar, em seu livro “Feridos em Nome de Deus”, destaca que este é um artifício de marketing eficaz para atrair cristãos para as apostas.

Programas de apoio como o “Celebrando a Recuperação” (CR), uma adaptação cristã dos 12 Passos dos Alcoólicos Anônimos, têm sido fundamentais no tratamento de dependentes de apostas. O CR, que está presente em cerca de 90 países, tem ganhado força no Brasil, com grupos de apoio que ajudam fiéis a superarem o vício em apostas. Em São Paulo, a Igreja Batista de Água Branca oferece apoio a cerca de 350 pessoas por semana.

Os pastores evangélicos, como o bispo Renato Cardoso da Igreja Universal, e o pastor Silas Malafaia, têm reforçado seus alertas contra os danos causados pelas apostas, tratando o vício como um problema espiritual que afasta os fiéis de Deus. Ele, inclusive, associa o fenômeno ao “espírito do vício” e ao “espírito do demônio da riqueza”, conhecido como Mamom.

Enquanto igrejas evangélicas se preparam para enfrentar o crescente número de dependentes de apostas online, muitos pastores têm intensificado suas abordagens para criar anticorpos espirituais contra esse vício que afeta tantas famílias.

À medida que o vício em apostas online cresce entre os fiéis evangélicos, igrejas em todo o Brasil estão se mobilizando para fornecer apoio espiritual e emocional. Por meio de programas de recuperação e apoio, as igrejas tentam combater o impacto negativo das apostas, oferecendo aos fiéis uma alternativa à busca por riquezas fáceis, seja nas apostas ou em outras formas de jogo.

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