Biden defende o sindicalismo americano. Por Luis Nassif

Atualizado em 2 de março de 2021 às 7:26
Biden foi vice-presidente nos dois mandatos de Barack Obama – Reprodução

Publicado originalmente no GGN:

Por Luis Nassif

O presidente americano Joe Biden exigiu que a Amazon não intimide nem ameace os trabalhadores que estão votando para a criação de um sindicato em um depósito do Alabama. Foi taxativo na defesa:

“A classe média americana foi construída por trabalhadores com proteção do trabalho organizado”, disse ele.

A votação se dá entre 6 mil trabalhadores em um depósito em Bessemer, perto de Birmingham. E inaugura um movimento visando a sindicalização. A Amazon resistiu, sustentando que paga um salário acima do mínimo e benefícios. Portanto, não haveria necessidade de um sindicato.

Sua preocupação com o início da sindicalização a levou a lançar um site anti-sindical e colocar cartazes em torno das instalações. E obrigou os trabalhadores a reuniões durante o trabalho, visando dissuadi-los de criar o sindicato.

A posição de Biden foi clara. Segundo ele, não caberia ao presidente se alguém deve se filiar ou não a um sindicato. Mas também não cabe ao empregador decidir.

As reações contra a Amazon não se resumiram ao presidente. Um grande grupo de investidores também insistiu para que a Amazon não se intrometesse nas discussões.

Por trás dessas disputas, está um ponto central da recuperação americana: a necessidade de gerar bons empregos e de fortalecer o mercado interno.

Aliás, a perda de protagonismo da economia americana, e a ascensão da economia chinesa, se deveu a decisões estratégicas equivocadas. Internamente, houve uma ampliação da financeirização da economia e um enfraquecimento do poder dos sindicatos. Essa enfraquecimento se devia à possibilidade das grandes empresas americanas contratarem a fabricação de seus produtos na China e na Ásia.

Houve reflexos na economia interna, que perdeu o dinamismo, na questão geopolítica, com as vulnerabilidades americanas em setores de ponta, como a fabricação de chips, a problemas políticos, com o fortalecimento da ultradireita americana.

Agora, com as novas tecnologias mostrando-se exterminadoras de empregos, cada vez mais haverá a necessidade de sindicatos fortes – e reformulados. No caso brasileiro, o enfraquecimento dos sindicatos, iniciado no governo Temer, enfraqueceu radicalmente as demandas da indústria. Em outros tempos, empresas, associações empresariais e sindicais eram parceiras em defesa da industrialização.

O centro do capitalismo ocidental está experimentando na pele o óbvio: a melhoria de condições de cada empresa, individualmente, com o extermínio de direitos, prejudicou a economia como um todo. Beneficiaram-se apenas grandes corporações sem pátria. Mas como ainda não se inventou uma maneira de exterminar estados nacionais, nem de exterminar os eleitores, a consequência automática é o enfraquecimento do mercado interno e das democracias.