Biden está pronto para discutir com Lula presença de Bolsonaro nos EUA, diz alto funcionário do governo americano

Atualizado em 10 de fevereiro de 2023 às 12:22
Biden e Lula

O Washington Post deu matéria sobre a visita de Lula a Biden nos Estados Unidos.

De acordo com o jornal americano, que ouviu um alto funcionário do governo dos EUA, “os líderes compartilharão experiências de como é um viver no lugar do outro”.

“Biden está pronto para discutir a presença de Bolsonaro nos Estados Unidos”, afirmou essa fonte.

Diz o Post:

Biden, um democrata de centro, derrotou o atual presidente Donald Trump em uma disputa difícil, garantindo a vitória com margens estreitas em vários estados decisivos. Na eleição mais acirrada do Brasil desde seu retorno à democracia há mais de três décadas, Lula, o líder esquerdista do Partido dos Trabalhadores, conseguiu uma vitória contra o atual presidente de direita Jair Bolsonaro, que ganhou o apelido de “Trump dos Trópicos” e foi um admirador declarado do ex-presidente dos Estados Unidos.

Tanto Trump quanto Bolsonaro semearam dúvidas sobre o voto, sem nunca apresentar provas, mas suas reivindicações repercutiram em seus apoiadores mais obstinados. No Capitólio dos Estados Unidos, os apoiadores de Trump encenaram a insurreição de 6 de janeiro de 2021, buscando impedir que a vitória de Biden fosse certificada. No mês passado, milhares de manifestantes invadiram a capital brasileira com o objetivo de derrubar o recém-empossado Lula.

As conversas de sexta-feira no Salão Oval, pouco mais de um mês após a posse de Lula e a tentativa fracassada de derrubar sua presidência, têm como objetivo destacar que a democracia brasileira continua resiliente e que as relações entre as duas maiores democracias das Américas estão de volta aos trilhos. (…)

Espera-se que os líderes discutam os esforços para salvaguardar a democracia, a invasão da Ucrânia pela Rússia, a insegurança no Haiti, a migração e as mudanças climáticas, incluindo os esforços para conter o desmatamento da Amazônia, de acordo com um alto funcionário do governo Biden que falou com os repórteres sobre a reunião com a condição de anonimato.

Durante sua candidatura à Casa Branca em 2020, Biden propôs trabalhar com parceiros globais para criar um fundo de US$ 20 bilhões que encorajaria o Brasil a mudar sua abordagem para a Amazônia. Analistas dizem que a reunião de sexta-feira marca uma oportunidade ideal para Biden anunciar uma continuação da promessa de campanha.

O alto funcionário do governo Biden se recusou a comentar se Biden anunciaria uma contribuição dos EUA para um esforço climático multilateral conhecido como Fundo Amazônia. O funcionário observou que o enviado especial de Biden para o clima, John Kerry, deve viajar em breve ao Brasil.

Os dois líderes já se encontraram cara a cara em 2009, quando Biden era vice-presidente durante o primeiro turno de Lula como presidente do Brasil, de 2003 a 2010. Lula passou 580 dias na prisão por acusações de corrupção, mas a condenação foi anulada em 2021 por questões de fundamentos processuais e a Suprema Corte decidiu posteriormente que o juiz havia sido tendencioso. O clima foi um tema de destaque em dois telefonemas recentes entre os líderes desde a vitória de Lula em outubro, segundo a Casa Branca.

Mas o maior objetivo de Lula é garantir apoio para a legitimidade de sua presidência, enquanto o desconforto continua em casa. Ainda não está claro como o animus gerado por Bolsonaro será canalizado daqui para a frente, e alguns parlamentares da oposição aliados do ex-presidente já estão pedindo o impeachment de Lula. Lula demitiu o comandante do Exército, com o ministro da Defesa citando “uma fratura no nível de confiança” nos escalões superiores da força. (…)

Bolsonaro, que enfrenta várias investigações no Brasil, viajou para a Flórida durante os últimos dias de sua presidência e lá permanece desde então. Ele solicitou no final do mês passado um visto de turista de seis meses para estender sua estada nos EUA. Um grupo de legisladores democratas instou Biden a expulsar o ex-presidente, alegando que os EUA não deveriam fornecer um porto seguro para líderes autoritários.

A Casa Branca e o Departamento de Estado se recusaram a comentar sobre o status do visto de Bolsonaro, citando questões de privacidade. Valentina Sader, diretora adjunta do Centro para a América Latina do think tank Atlantic Council, disse que tanto Biden quanto Lula querem tratar com cautela a questão dos vistos.

“Lula está caminhando em uma linha tênue com a situação do visto de Bolsonaro e está tentando evitar ser visto como perseguidor de Bolsonaro”, disse Sader. “E Biden vai evitar de qualquer maneira que isso se torne algo maior do que precisa ser, acho que essa será a escolha dele.”

Biden está pronto para discutir a presença de Bolsonaro nos Estados Unidos caso Lula levante esse assunto, de acordo com o alto funcionário do governo. Analistas disseram que é improvável que Lula o faça em parte porque, para ele, a ausência de Bolsonaro do Brasil é uma mudança bem-vinda.

Lula estava programado para se encontrar com legisladores democratas e dirigentes sindicais antes de Biden.

Mesmo que Lula tenha sido elogiado por sua boa-fé democrática, ele se recusa a criticar o autoritarismo na Venezuela e em Cuba, dizendo que as nações têm direito à autodeterminação, e muitas vezes fica do lado de seus líderes de esquerda.

Isso marca um afastamento da agenda pró-democracia de Biden, disse Bruna Santos, diretora do Brazil Institute no Wilson Center em Washington. Mas o líder brasileiro está ciente dos riscos de se aproximar demais e medirá suas palavras em Washington, acrescentou ela. (…)