O economista espanhol Alfredo Serrano Mancilla, diretor do Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica, repete em artigo no jornal Página 12 uma pergunta sem resposta desde o início do golpe: qual foi e qual será o real protagonismo dos militares na deposição de Evo Morales?
Mancilla observa que os generais não assumiram nenhuma liderança ou iniciativa golpista pública e explícita, quando os chamados cívicos (fascistas), liderados por Camacho El Macho, passam a demonstrar que são capazes de derrubar o presidente.
Mantêm-se indecisos e divididos, até a última hora, e emitem finalmente uma nota, em nome das Forças Armadas, que determina a renúncia de Morales, quando o golpe está então consumado. Haveria golpe sem aquela nota dos militares? Certamente não.
Outras perguntas se relacionam com o fato de que a autoproclamada presidente, Jeanine Áñez, trocou todo o alto comando logo que assumiu.
Por que não houve reação? Estava tudo combinado? Mas combinado com uma figura sem expressão?
Quais serão os próximos movimentos dos militares? É provável que assumam posição subalterna e obediente. E que apenas reafirmem a vocação das casernas nessas circunstâncias, com submissão à direita civil.
Talvez se confirme a suspeita de alguns historiadores. Não há mais na América Latina uma elite militar capaz de golpear e levar adiante um golpe.
Não falta vontade, mas falta preparo e sofisticação aos generais da atual geração. O serviço é encomendado pelos civis, com a ajuda dos americanos, e assumido e completado depois por esses mesmos civis, por mais medíocres que sejam.
Os militares teriam se conformado com a condição de serem apenas tarefeiros dos golpistas e dos déspotas que chegam ao poder pelo voto.