“Bolsolão do SUS”: governo usa dinheiro da Saúde para beneficiar aliados do Centrão

Atualizado em 19 de maio de 2022 às 12:00
Jair Bolsonaro

Na manhã desta quinta-feira, o termo “Bolsolão do SUS” se tornou um dos assuntos mais comentados das redes sociais. O motivo é o esquema do governo, revelado em matéria do jornal O Globo, que entregou a aliados no Congresso o controle do dinheiro destinado a serviços de saúde nos estados e municípios.

Em 2021, foram distribuídos R$ 7,4 bilhões em emendas de relator, por meio do Fundo Nacional de Saúde (FNS), para redutos eleitorais de líderes do Centrão. A verba poderia ter sido usada para bancar a compra de ambulâncias, atendimentos médicos e construção de hospitais.

O deputado Hugo Leal (PSD-RJ), relator do Orçamento deste ano, afirmou que o FNS se tornou um “instrumento de negociação” política sob a gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Por que municípios recebem mais e outros menos? Porque o líder ou o deputado está colocando mais no município que interessa para ele. Isso é político”, disse o parlamentar.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não se posicionou sobre o escândalo.

Entre 2019 e 2021, a quantia em emendas para o FNS aumentou 112%, devido à expansão do poder do Congresso sobre o Orçamento e ao avanço da pandemia. Quase metade desse crescimento ocorreu através do orçamento secreto, mecanismo usado pelo governo para angariar votos no Congresso, distribuindo recursos entre parlamentares de forma desigual.

A cidade de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, é a que mais recebeu verbas do FNS no ano passado. Reduto de Altineu Côrtes (RJ), líder na Câmara do PL, partido de Bolsonaro, o município o destino de R$ 133 milhões em emendas parlamentares. A maior parte — R$ 111 milhões — é oriunda do orçamento secreto.

O valor concedido a São Gonçalo é sete vezes superior aos R$ 14 milhões direcionados à capital do RJ. A comparação entre as populações das duas cidades escancara a disparidade: enquanto o Rio possui 6,7 milhões de habitantes, São Gonçalo tem 1,2 milhão.

A prefeitura do município afirmou ao Globo que os valores se justificam porque a cidade tem um orçamento “extremamente baixo” e porque a pandemia causou um “aumento de despesa considerável”.

A vizinha de São Gonçalo, Itaboraí, foi contemplada com R$ 39 milhões para financiar seu sistema de saúde. Quase metade desse valor — R$ 18 milhões — foi destinado via orçamento secreto.

Para Niterói, que fica a 34 quilômetros de Itaboraí, tem o dobro da população, mas é governada por Axel Grael (PDT), que faz oposição a Bolsonaro, foram entregues R$ 10 milhões em 2021, sendo R$ 3 milhões do orçamento secreto.

“É lamentável. Deturpa o princípio do SUS. A gente contava com um repasse muito maior. É uma distorção”, lamenta Grael.

No Twitter, internautas denunciam o descaso do governo. Confira a repercussão: