Publicado na Rede Brasil Atual
Enquanto a CPI da Covid avança para mais uma semana de depoimentos decisivos, o governo Bolsonaro enfrenta uma nova crise. O jornal O Estado de S. Paulo divulgou no último domingo a existência de um “orçamento secreto” voltado para garantir a compra de apoio político de parlamentares do Centrão. O esquema envolveria o desvio de recursos a partir da compra de tratores e veículos agrícolas superfaturados.
Apelidado de “Bolsolão”, o mecanismo faz cair por terra o discurso moralista de Bolsonaro, que defendia uma “nova política”, de acordo com o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP). Para ele, essas denúncias indicam que Bolsonaro levou a corrupção para dentro do Orçamento.
“Na medida em que ele está encurralado, volta a ser verborrágico, adotando comportamentos antidemocráticos, racistas e homofóbicos”, afirmou Ramirez, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (11). “Tudo isso exatamente para desviar a atenção. Mas, depois de quase dois anos e meio de governo, já ficou evidente qual é a sua estratégia”, acrescentou.
Entre os principais beneficiários do esquema estariam o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL) e o ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). O deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) protocolou representação no Tribunal de Contas da União, pedindo a adoção de medidas cautelares cabíveis. Na mesma linha, Alessando Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, deve apresentar outro pedido de investigação ao Ministério Público Federal (MPF).
“Tudo isso acaba revelando a capacidade do Centrão de se adaptar a formas diversas de superfaturamento e de desvios de verbas”, disse Ramirez. “Não se pode esquecer que Bolsonaro foi eleito com o discurso de que promoveria o fim desse tipo de toma-lá-dá-cá”, destacou o analista.
Pazuello na mira
Em relação à CPI da Covid, o depoimento mais aguardado, marcado para a semana que vem, é do ex-ministro da Saúde da gestão Bolsonaro, general Eduardo Pazuello. Ele deverá dar explicações sobre o apoio do ministério ao uso da cloroquina para o tratamento de pacientes com covid-19. Além disso, deverá responder sobre as ofertas que foram recusadas para a compra de vacinas.
Sem justificativas técnicas e científicas para os seus atos, o general teme sair preso da CPI. Também há indícios de superfaturamento na produção da cloroquina pelo laboratório do Exército, o que mancharia ainda mais a imagem da corporação.