Durante o panelaço desta terça-feira, talvez o mais ruidoso até agora por conjugar a data de 31 de março com o pronunciamento do excrementíssimo presidente da república, um barulho de vidro quebrando assustou um morador de Perdizes, bairro de classe média em São Paulo.
A janela do apartamento de P. havia sido atingida por um disparo. Ele afirma estar com receio e pediu para não ser identificado.
“Fomos surpreendidos por um tiro de espingarda de chumbo. Por sorte não estávamos no cômodo, se não teríamos machucado seriamente.
Nossa janela fica de frente para varandas em que bolsonaristas têm se manifestado de forma muito agressiva, mas nunca a esse ponto.
Estamos assustados, passamos o dia com as janelas fechadas e, sobretudo, indignados com a banalização da violência que autoriza alguém a atirar na casa de cidadãos em quarentena devido à pandemia que nos aflige, apenas por estarmos exercendo direitos democráticos”, relatou ele ao DCM.
Há 20 anos morando em um prédio da rua Iperoig, P. afirmou que o disparo veio de um dos prédios da rua Apiacás e que tem notado uma crescente agressividade dos vizinhos simpáticos à extrema-direita.
Com medo, disse que não participou nem ficou próximo das janelas durante o panelaço de ontem.
P. afirmou não ter informações se mais algum apartamento do prédio foi atingido naquela noite e que foi a primeira vez que isso ocorreu. Entretanto, o DCM recebeu um outro relato de ataque similar.
Dias antes e a poucos metros dali, na rua Monte Alegre, um professor do curso de Jornalismo da PUC testemunhou uma amiga ser atingida no braço pelo mesmo tipo de projétil e igualmente durante um panelaço.
Ela estava em aula remota, dentro de casa e disse ter notado um ponto luminoso vermelho que se movimentava no espaço. De repente, sentiu uma dor forte no braço e começou a sangrar.
Imediatamente avisou a professora e os colegas. Alguns foram socorrê-la. O grupo encontrou então 5 esferas metálicas, todas agora em poder da perícia criminal.
O ferimento não teve gravidade e ela registrou um boletim de ocorrência na delegacia de Perdizes, assim como o morador da rua Iperoig. Mas quem é, ou quem são, os franco-atiradores não se sabe ainda.
Na Itália, todos os finais de tarde são marcados por pessoas indo às janelas para cantar, aplaudir os profissionais da saúde, dançar ao som de Bella Ciao.
Aqui Bolsonaro instaurou um ambiente de ódio que, à medida que seu comportamento errático e beligerante se acentua, tende a se agravar.
A responsabilidade de todos que embarcaram no discurso “qualquer coisa menos o PT” nunca poderá deixar de ser cobrada. Era qualquer coisa mesmo? Então está aí o “qualquer coisa” agora.
Durma com um barulho desses (e proteja-se longe das janelas).
P.S.: O professor solicitou que seu nome também fosse mantido em sigilo. Sua amiga também não concordou em revelar a identidade. O medo é compreensível.