Incapazes de tirar Flávio Dino e Paulo Gonet do prumo ou fazê-los escorregar em alguma casca de banana durante a sabatina que avalia a indicação de ambos ao STF e à PGR, respectivamente, nesta quarta (13), senadores bolsonaristas tiveram que se contentar em produzir vídeos para alegrar suas torcidas nas redes sociais. Vídeos em que aparecem apenas as suas próprias perguntas, sem as respostas de Dino ou Gonet.
Para além do trabalho de beija-mão feito por Dino e Gonet ao longo das últimas semanas, a articulação do governo Lula com o presidente da Comissão de Constituição de Justiça, Davi Alcolumbre, com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e com lideranças da casa garantiu que não haveria surpresas.
Atendidas reivindicações de emendas e outros pedidos, a avenida para a aprovação estava liberada antes mesmo da sabatina começar. É mais ou menos como uma banca de doutorado: a gente que orienta não marca defesa se tem a impressão de que a tese do orientando não tá boa e vai ser pisoteada pela banca.
Quando o nome de um indicado para o STF ou para a PGR tem votos prometidos em número suficiente, é difícil que ele leve uma surra na sabatina. Alguns parlamentares mais radicais podem esticar a corda, mas a maioria não é burra. Sabe que pode precisar ser atendida pelo futuro ministro do Supremo ou procurador-geral da República mais para frente. Portanto, há limites.
Mesmo os nomes mais radicais fazem críticas duras, mas em um timbre mais suave. Ajudou o fato que Dino deixou de lado o uniforme de Vingador e Gonet é um nome mais conservador, que satisfaz até um naco do bolsonarismo.
Com intermináveis dez minutos para fazerem suas inquirições a Dino e Gonet, alguns senadores acabaram usaram seu tempo para fazer pronunciamentos, aproveitando que muitos veículos de comunicação transmitiam ao vivo a sabatina.
Sabiam que ambos estariam treinados tanto para dar boas respostas (são duas pessoas como notável saber jurídico, apesar do mimimi que se formou em torno disso) quanto para enrolar e não dar resposta alguma quando necessário (também são bons oradores, principalmente Dino). Então, para não saírem da festinha sem nenhuma lembrancinha, suas equipes estão fazendo recortes de vídeos para distribuição nas redes sociais.
Essas perguntas-pronunciamentos muitas vezes repetiam teses fantasiosas caras ao bolsonarismo, como a que Dino visitou o Complexo da Maré porque estava mancomunado com o tráfico ou escondeu as imagens do circuito interno de TV do Ministério da Justiça porque a inação das forças de segurança diante do golpismo no 8 de janeiro teria sido proposital. E foram bem respondidas pelo ministro, incluindo a apresentação de documentos.
Mas para a torcida, a impressão vendida é que o seu senador foi lá e arrebentou com Dino. Por exemplo, logo após as suas interpelações, o vídeo de Rogério Marinho (PL-RN) já estava em suas contas, dizendo que o hoje ministro da Justiça é “uma ameaça à neutralidade do Poder Judiciário”. Também o de Magno Malta (PL-ES), destacando que “um comunista confesso não deveria ser ministro do STF”
Em ambos, só havia a pergunta, sem nenhum trecho de resposta.
Da mesma forma que Bolsonaro fazia seus discursos na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas não para o mundo, mas para os bolsonaristas no Brasil, os senadores bolsonaristas fizeram sucesso na sabatina… junto aos seus próprios seguidores.
Publicado originalmente no UOL.