Desde a última semana, quando a cantora gospel Aymeê Rocha cantou a música “Evangelho de Fariseus” em um reality show evangélico, o boato que se espalhou como pânico moral a partir de uma falsa denúncia da Damares Alves (Republicanos-DF) voltou a inundar as redes sociais: a de que há um forte esquema de tráfico humano levando crianças da Ilha de Marajó, no Pará, para exploração sexual em países vizinhos como Guiana e Suriname.
Nessa nova onda, vídeos compartilhados nas redes sociais geraram polêmica ao serem erroneamente associados, alimentando desinformação sobre o suposto tráfico sexual de crianças. Um deles mostra policiais retirando várias crianças de um carro, enquanto outro apresenta Damares fazendo as falsas acusações.
No entanto, o vídeo das crianças retiradas de um carro foi gravado no Uzbequistão, onde uma motorista foi flagrada transportando alunos de uma escola infantil de forma irregular. Não há relação com tráfico humano, como sugerido. A cena foi divulgada por autoridades de trânsito do país.
O flagrante da professora uzbeque foi noticiada pelo DCM em setembro de 2023. As imagens que correram pelo mundo no ano passado foram reutilizados pelos bolsonaristas para endossar o pânico moral da senadora. Influenciadores famosos como Rafa Kalimann também compartilharam as denúncias em suas redes sociais.
Já o vídeo de Damares Alves, gravado em 2022, durante uma campanha eleitoral. As acusações de tráfico sexual na Ilha do Marajó foram investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF), que não encontrou evidências que as corroborassem. Na ocasião, o MPF pediu que a bolsonarista seja multada em R$ 5 milhões pela divulgação da fake news. O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), foi mais um bolsonarista a compartilhar a fake news.
Quando Damares denunciou a situação da Ilha do Marajó, com casos de abusos e exploração infantil, Xuxa, Patricia Pillar, Marcelo Tas e outros famosos de esquerda atacaram a Ex-ministra e pediram sua cassação alegando que ela estava fazendo fakenews. Onde estão agora esses… pic.twitter.com/TeQgYJkXXd
— Carlos Jordy (@carlosjordy) February 22, 2024
O Observatório do Marajó, uma ONG dedicada à observação de políticas públicas na ilha paraense, emitiu um alerta contra a “propaganda” que associa o local à exploração sexual de crianças. A instituição afirmou que essa leitura sobre os municípios da região está equivocada, destacando que a população local não normaliza violências contra crianças e adolescentes. A entidade ressaltou a importância de não propagar mentiras nas redes e não cair em desinformação e pânico moral.
Ambos os vídeos foram associados, sugerindo que as crianças retiradas do carro eram vítimas de tráfico, corroborando as declarações da senadora. No entanto, não há conexão entre os eventos.
Embora o tráfico de pessoas seja uma questão séria, é importante evitar a propagação de informações falsas, pois isso pode prejudicar comunidades e indivíduos inocentes. A investigação detalhada e a verificação de fontes são essenciais para combater a desinformação.