Bolsonaro joga a possibilidade da sua reeleição na apropriação da Câmara pelo Centrão, com a eleição de Lira para a presidência.
Controlaria a Câmara e conta com um candidato do MDB amigável ao governo no Senado.
A esquerda tem condições de brecar uma parada tão importante para Bolsonaro e desastrosa para o Brasil, ao unir a todas as forcas que se opõem a esse projeto. Conseguiu unir o PT, o PDT, o PSB e o PC do B nesse projeto. Não representa conquistar a Câmara para o campo democrático, a aliança para impedir o projeto do Bolsonaro se vale da divisão no campo da direita.
Não tem nenhum sentido, nesse cenário, a esquerda lançar um candidato seu, só para marcar posição e ser responsável pela apropriação por Bolsonaro da Câmara.
Alega-se que o PT estaria entrando numa aliança subordinada ao bloco dirigido por Maia. O que fazer, se não fomos capazes de eleger um Congresso com uma força maior do campo da esquerda?
Os que não estão de acordo com essa posição, tampouco contribuíram elegendo parlamentares de esquerda. Temos que pagar um preço por isso. Não refresca nada afirmar, de forma solitária sua posição, dormir tranquilo no travesseiro, e ver o Bolsonaro ter a estrada livre para sua reeleição.
Essa aliança tem um sentido preciso: impedir esse caminho para Bolsonaro. Como tinha sentido no Rio votar no Paes no segundo turno, para não ter um aliado do Bolsonaro continuando a dirigir o Rio. Não significa nenhum apoio ao governo do Paes, como a aliança com esse bloco não significa que apoiaremos a orientação que será dada à Mesa da Câmara.
A esquerda não deve definir o seu caminho a partir de si mesma, mas a partir da situação geral do país, nesse caso, do Congresso.
Quase todo mundo está de acordo numa frente com todas as forcas contra o inimigo fundamental, o Bolsonaro. Mas chega na hora da aliança, tem gente na esquerda que só aceitaria se os aliados topassem que o candidato fosse do PT. Senão, estaríamos subordinados a outras forças.
Então, o quê? Uma candidatura própria é facilitar o caminho para Bolsonaro avançar no seu projeto de apropriar-se das instituições para o seu projeto de reeleição. A esquerda seria a responsável por isso.
Na hora H, o sectarismo reaparece. Bolas para o que aconteça com o país. Contanto que não estejamos nos sujando em uma aliança ocasional com forças que não pertencem ao campo da esquerda.
O argumento mais importante não é nem o de que a esquerda teria postos importantes na Mesa da Câmara e nas comissões, embora isto também conte. O argumento mais importante é onde colocar o peso da esquerda numa disputa tão importante como, hoje, a da Mesa da Câmara.
Se o critério for fazer aliança só com forcas democráticas, a esquerda se consolará com seu isolamento, com a tranquilidade da sua consciência, mas deixará livre o campo para o projeto do Bolsonaro.
Para um livre atirador, que não tem responsabilidade de dirigir um partido de esquerda, nem uma bancada no Congresso, é fácil, é cômodo, defender, na internet, uma posição de independência da esquerda.
Mas, na perspectiva da disputa nacional, é fazer o jogo do Bolsonaro, é fortalecê-lo, não só na perspectiva do que ocorrerá com o país nos próximos dois anos, mas também nas eleições de 2022.
Há gente na esquerda que reclama, alega, mas não defende posição coerente do ponto de vista estratégico da esquerda. Parece que já se conformam com perder as eleições de 2022, contanto que a esquerda não faça alianças que consideram espúrias. Podem ter espaço na internet, podem ter brilho imediato, mas sua posição não tem consistência, nem continuidade, porque não estão inseridas no projeto estratégico da esquerda para 2022.