O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alertado semanas atrás sobre os crescentes indícios de uma possível delação do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. No entanto, segundo informações obtidas pela CNN, Bolsonaro duvidou da possibilidade de delação até o último momento, apostando na lealdade do seu braço direito.
O acordo foi homologado recentemente pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Com a decisão, Moraes concedeu liberdade provisória para Cid, que terá de seguir exigências como se afastar das funções no Exército, uso de tornozeleira eletrônica e não ter comunicação com outros investigados.
Pessoas próximas afirmaram que o ex-presidente ouviu que os extensos depoimentos de Cid à Polícia Federal indicavam que o processo já estava em andamento, mas Bolsonaro insistia na fidelidade do ex-ajudante de ordens, acreditando que ele nunca faria uma delação.
Além disso, Bolsonaro teria se esforçado para minimizar os riscos de uma possível delação, usando como exemplo seu encontro com o hacker Walter Delgatti Neto no Palácio da Alvorada, que foi intermediado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Segundo relatos, Bolsonaro mencionou que Cid estava presente na sala durante a conversa, mas permaneceu próximo à porta, a uma distância que o impediria de ouvir os detalhes da conversa entre o ex-presidente, o hacker e a deputada.
Em relação ao recente relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que identificou presentes recebidos em viagens oficiais e incorporados de forma irregular ao acervo privado de Bolsonaro, seus aliados estão orientados a ignorar as conclusões do órgão.
O relatório apontou que 128 itens teriam sido incorporados indevidamente ao acervo privado, com 111 deles não se encaixando no perfil de itens pessoais e outros 17 tendo um valor comercial considerado muito elevado para serem considerados pessoais.
O círculo próximo a Bolsonaro tem insistido em desconsiderar as conclusões do TCU, argumentando que a legislação de 1991 sobre o acervo documental da Presidência permite a venda desses bens. Já a defesa do ex-presidente pretende “deslegitimar” o acordo de delação premiada, pois os advogados entendem que o Ministério Público Federal deveria ter intermediado a ação da Polícia Federal e do STF.