Com fracasso do ato golpista, Bolsonaro está maduro para cair. Por Luis F. Miguel

Atualizado em 8 de setembro de 2021 às 8:34
Bolsonaro. (crédito: Evaristo Sá/AFP)
Bolsonaro. (crédito: Evaristo Sá/AFP)

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Por Luis Felipe Miguel

É hora de balançar o galho.

Não tem por que permanecer neste estado de pré-golpe até 2022. As manifestações de ontem marcam o enfraquecimento de Bolsonaro. Ele está maduro para cair.

Ele reuniu muita gente? Sim. Mas muito menos do que esperava, tamanho o investimento na preparação dos atos. E muito menos do que era necessário para dar gás a um novo golpe.

As estimativas mais confiáveis dão conta de umas 100 mil pessoas em Brasília e um pouco mais do que isso em São Paulo. Bolsonaro contava com dez vezes mais gente para se cacifar.

Isto precipita o afastamento do Centrão. Ninguém quer ser sócio de uma tentativa de golpe fadada ao fracasso.

Mais ainda: Bolsonaro decepcionou sua base. Ele prometeu ação e só ofereceu mais palavras ao vento.

A persona política de Bolsonaro está se deslocando. O machão intrépido que desafiava “o sistema” é agora a eterna vítima, se lamuriando das maldades que fazem com ele, incapaz de reagir.

Bolsonaro xinga os outros e se apieda de si mesmo. Relatos das cloacas da extrema-direita dão conta de que a decepção com ele é crescente.

Em suma, Bolsonaro não consegue azeitar sua milícia política. O bolsonarismo faz um barulho feio nas redes sociais, mezzo gado, mezzo robots, e passa vexame nas ruas, vestido com a bandeira e ostentando placas com impagáveis erros gramaticais – bilíngues, em português e em inglês, que mico pouco é bobagem.

Mas causar convulsão social? Dar bengaladas a esmo e quebrar tudo? Só nos sonhos do genocida, e olhe lá.

Isto está cada vez menos crível, mesmo para eles.

Se as famosas “instituições” quiserem, é a hora de balançar o galho. A hora de derrubar Bolsonaro e prendê-lo, junto com meia dúzia de outros criminosos de sua entourage.

Não faltam motivos, nem caminhos para fazê-lo. Impeachment, afastamento por crime comum, cassação da chapa, sem falar em soluções mais criativas (nem por isso ilegítimas).

Sua inaptidão para o cargo já está mais do que comprovada. Seu comportamento delinquente, também.

Embora ciente de que a cartada de ontem não funcionou, Bolsonaro sabe que já ultrapassou o ponto de não retorno. Seu único caminho é aprofundar as ameaças e bravatas.

Por isso, a hora de atingi-lo é agora. Antes que, como o animal ferido da metáfora óbvia, ele busque uma saída desesperada.

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Porque este é um ponto: a ameaça de que sua base radicalizada se rebele está cada vez menos crível.

Os bolsonaristas colocariam o rabo entre as pernas e iriam chorar suas mágoas em casa. Claro que depois a gente teria que lidar com eles, mas o país não pegaria fogo.

Assumiria um fascistão que não é burro e sabe que é obrigado a se fazer de civilizado. O exemplo de Bolsonaro inibiria, ao menos por um tempo, outras intentonas.

A direita teria uma chance de encontrar sua lendária “terceira via”, o que é um bom estímulo para que ela embarque na ideia de derrubar Bolsonaro.

As eleições ocorreriam em 2022, sem maiores sobressaltos, com a mídia e o poder econômico fazendo o possível para definir o resultado – como sempre.

Tirar Bolsonaro do cargo não resolve nossos problemas. Mas permite que nós os enfrentemos.