Bolsonaro cometeu “crime absurdo” e Exército precisa reagir, diz Santos Cruz

Atualizado em 26 de agosto de 2023 às 14:05
General Santos Cruz e Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência de Jair Bolsonaro (PL), acredita que o ex-presidente cometeu um “crime absurdo” contra o Exército durante seus quatro anos no Planalto. Em entrevista ao Congresso em Foco, ele cobrou um posicionamento mais incisivo do Comando do Exército contra o bolsonarismo presente na esfera militar.

Para Santos Cruz, o atual comandante da instituição, general Tomás Paiva, é contundente na defesa das Forças Armadas e precisa deixar claro que eventuais crimes cometidos por militares próximos a Bolsonaro não podem ser confundidos com a instituição. “Ele até falou, mas está muito espalhado, uma mensagem aqui, outra ali. Talvez uma concentração maior de informações seja melhor, tenha maior efeito na sociedade”.

Leia os principais trechos da entrevista:

O senhor está surpreso com o envolvimento de militares com denúncias relacionadas ao governo Bolsonaro?

Surpreso, um pouco, porque nenhum de nós imaginou que fosse chegar neste nível. São fatos muito degradantes, um nível muito rasteiro de problemas. São pessoas que têm um passado profissional de destaque.

Qual o grau desse problema para as Forças Armadas?

Como pessoas, eles vão ter de se explicar. O assunto já passou para o controle da Justiça. Agora, sempre tem um reflexo para a instituição, isso não temos dúvida. Eu tenho alertado que uma coisa são as responsabilidades pessoais, outra são as instituições.

Precisa ser tomada alguma providência em relação ao Exército?

Você tem dois aspectos, o individual que está sendo analisado em inquérito, e as pessoas vão ter de se explicar dentro da lei. E tem as instituições que acabam sofrendo também. Tem de explicar ao público que uma coisa é responsabilidade individual, outra institucional. Não é a instituição que mandou fazer certas coisas. O Exército não pode tomar medidas disciplinares. Quando você tem um inquérito aberto, o assunto já está nas mãos da Justiça, o Exército não pode tomar medida administrativa.

O senhor acredita em Jair Bolsonaro?

Não. Agora, uma coisa é o que eu acho, outra é o que a investigação vai comprovar. O que vale agora é a investigação. Agora, você não consegue imaginar que presentes de governo, alguém vai se apropriar daquilo. É um nível tão ruim que você realmente se surpreende um pouco.

O governo dele fez mal para as Forças Armadas?

Claro, sem dúvida. A vida militar é muito caracterizada pela farda, por uma série de coisas. Mas não é só a vida militar. Quando um padre faz uma besteira aí, a igreja toda é penalizada. Algumas instituições são muito marcadas, e quando alguém faz alguma bobagem ela desgasta a instituição também, que é o caso do Exército. Nesta hora, é muito importante lembrar que uma coisa é a responsabilidade individual, outra é a institucional. Tem de explicar para a sociedade, neste momento de desgaste, que a responsabilidade individual é uma coisa diferente.

Está faltando atitude das Forças Armadas em explicar à sociedade essa diferença?

O comandante do Exército (general Tomás Paiva) soltou uma nota dizendo que o Exército tem de se dedicar à vida profissional, à Constituição, às leis, vai corrigindo aos poucos. Mas aí, eu concordo com você, poderia ser feita uma coisa mais concentrada, mais forte para a sociedade tomar conhecimento. Ele até falou, mas está muito espalhado, uma mensagem aqui, outra ali. Talvez uma concentração maior de informações seja melhor, tenha maior efeito na sociedade. Na parte institucional você não pune a instituição. O maior erro é tentar punir a instituição. Instituição você aperfeiçoa.

O bolsonarismo acabou fazendo mal para o Exército?

O período de Bolsonaro foi de um crime absurdo feito contra o Exército. Particularmente, no final do primeiro turno, ocorreram esses acampamentos, ele ficou quieto, não falou nada. Era uma obrigação dele falar, se dirigir àquelas pessoas e dizer que voltem para casa porque na porta do quartel não vai ter solução política. Ele tinha de falar isso porque era obrigação do presidente da República. E depois ele foi embora do país durante o exercício do mandato, uma coisa inimaginável que não dá para entender como a nossa legislação permite. Ele falhou. Foi uma covardia política. Era uma questão de respeito mínimo.

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