O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou uma suposta incerteza econômica pós-eleições de 2022 como argumento para justificar a transferência de R$ 800 mil para um banco nos Estados Unidos. A alegação de Bolsonaro é que o montante, na época equivalente a US$ 130 mil, tinha o propósito de resguardar seus recursos diante da instabilidade no Brasil.
Segundo informações obtidas pela Polícia Federal (PF), a transferência foi feita em 27 de dezembro de 2022, pouco antes do encerramento de seu mandato. Para a PF, o objetivo da transação era assegurar a permanência de Bolsonaro no exterior enquanto uma tentativa de golpe de Estado pudesse ser aplicada no Brasil.
Em entrevista ao Estadão, Bolsonaro rebateu as acusações de tentativa de golpe, afirmando que enviou o dinheiro por acreditar na derrocada da economia brasileira. Ele também mencionou que “muita gente mandou dinheiro para fora após as eleições”, citando que teria sido orientado a agir de tal modo: “O pessoal me disse que o volume de dinheiro enviado por brasileiro após as eleições multiplicou por três”, contou, insinuando um receio com a política econômica que seria adotada pelo governo Lula.
Seu advogado, Fábio Wajngarten, destacou que esse era todo o dinheiro disponível na poupança de Bolsonaro e que, após uma busca e apreensão, o banco determinou a devolução do montante ao Brasil.
A transferência de recursos para os EUA faz parte das investigações da Operação Tempus Veritatis, que mira suspeitas de golpe de Estado e crimes financeiros. O tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também está envolvido, tendo realizado uma transferência de mais de R$ 300 mil para os Estados Unidos em janeiro de 2023, segundo o Coaf.
As primeiras suspeitas sobre a movimentação financeira de Bolsonaro vieram à tona em maio de 2023. Na ocasião, a equipe de defesa do ex-presidente convocou uma coletiva de imprensa para esclarecer as polêmicas envolvendo transações e gastos em dinheiro vivo durante seu mandato.
Wajngarten ainda alegou que Bolsonaro teria tirado levado suas economias aos Estados Unidos por considerar que a economia brasileira ia “de mal a pior”. Essa movimentação não estaria relacionada com a viagem de Bolsonaro para a Flórida no final de seu mandato.