Bolsonaro deveria ressarcir os cofres públicos por uma milionária viagem inútil. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 23 de janeiro de 2019 às 15:10
Bolsonaro em Davos. Foto: Reprodução/ YouTube

Há quem não se contente em passar vergonha em território nacional e percorra milhares de quilômetros só para que sua insignificância seja, paradoxalmente, notada a nível planetário.

Esse parece ser o caso de Jair Bolsonaro que, a despeito do início desastroso de seu governo, resolveu passar recibo de sua incompetência e despreparo numa das mais importantes vitrines econômicas do mundo.

A trip europeia (porque outro nome não pode ser dado) da comitiva brasileira a Davos nos alpes suíços, mais do que um monumental fiasco sob todos os aspectos, resultou no aprofundamento da desconfiança generalizada que todo o mundo civilizado nutre pelo Brasil atual.

A estupefação do prêmio Nobel de economia, Robert Shiller, ao pronunciar para quem quisesse ouvir que Bolsonaro lhe “dá medo” e que o “Brasil é um grande país e merece alguém melhor” é só a voz audível do que se está sendo sussurrado em todos os corredores do Fórum Econômico Mundial.

O discurso breve, raso e vazio de Jair Bolsonaro só não provocou ainda mais decepção do que as suas reiteradas fugas a compromissos oficiais do evento. Algo que já causa constrangimento até para os anfitriões.

Após vários cancelamentos em participações nas salas de debates por parte da delegação brasileira, caso, por exemplo, do ministro Paulo Guedes que correu do evento público com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, hoje (23) o bolo foi dado em conjunto pelo próprio Jair e sua trupe circense.

O cancelamento de uma entrevista do presidente brasileiro e três dos seus principais ministros que já constava na programação oficial do Fórum, causou uma verdadeira saia curta entre os organizadores.

Sem maiores explicações a não ser a da “abordagem antiprofissional da imprensa”, Jair Bolsonaro voltou ao hotel e deixou jornalistas do mundo inteiro perplexos com o cancelamento que só foi comunicado oficialmente após 17 minutos após o horário previsto e mesmo assim pela organização que tampouco sabia o que dizer.

A imagem da mesa vazia com as plaquinhas indicando onde sentariam Ernesto Araújo, Paulo Guedes, Jair Bolsonaro e Sérgio Moro circulou o mundo como um retrato ao mesmo tempo simbólico e oficial de como o Brasil está sendo governado.

Na prática, por ninguém.

Como nada pode ser tão ruim que não possa piorar, instalado o desconforto geral, só depois a delegação tentou minimizar o ocorrido.

Sem nada melhor para contar o jeito foi dizer que o motivo do cancelamento se deu em função da, acreditem, “agenda apertada” e, pior, do “cansaço” do presidente. Jesus Cristo.

Dada a constante grosseria e completa falta de contribuição num debate em que o mundo todo assiste com a devida e necessária atenção, não seria surpresa se o Brasil não fosse convidado para a próxima edição do Fórum.

Afinal, ninguém quer em sua festa aquele cara chato que não faz outra coisa a não ser envergonhar os convidados e contar piadas sem graça.

De antemão já definido o lamentável prejuízo diplomático, comercial e de imagem do Brasil patrocinado por um presidente que achou por bem levar até um dos filhos para passear, o mínimo que se esperaria de alguém que honra tivesse, seria o de ressarcir aos cofres públicos os custos milionários de uma viagem que já se mostrou completamente inútil.

Até porque, se fosse para ser visto pelo mundo inteiro comendo num bandejão solitário, muito mais barato seria se o fizesse junto aos milicianos da comunidade de Rio das Pedras, onde sua presença, convenhamos, é bem mais querida.