PUBLICADO NA RBA
Jair Bolsonaro não parece ser “muito sadio da cabeça”, mas é, diz a deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP). “Tem inteligência para fazer o mal, para ser cruel com as pessoas”, afirma a parlamentar, ex-prefeita paulistana e ex-ministra, no programa Entre Vistas, da TVT, que vai ao ar às 22h desta quinta-feira (1º).
O programa é apresentado pelo jornalista Juca Kfouri. Também participaram dessa edição, como entrevistadoras, a co-deputada Raquel Marques, da Bancada Ativista (Psol) da Assembleia Legislativa de São Paulo, e a ex-secretária municipal de Políticas para Mulheres Denise Motta Dau.
Entre outros assuntos, Erundina falou sobre a “destruição do marco institucional” iniciado a partir do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, “a tragédia de se ter a primeira mulher presidente da República, eleita democraticamente, afastada por um golpe parlamentar”. A partir daí começou o desmonte: “A Constituição Federal de 1988 não representa mais nada, começou a ser destruída no governo ilegítimo do Temer, com a PEC da Morte (a emenda de teto de gastos), com a reforma trabalhista, com todos os desmontes do patrimônio nacional, a afronta à soberania… Não dá mais para tolerar situações como a que estamos vivendo hoje no Brasil. É uma pessoa (Bolsonaro), a meu ver, para ser interditada.” Ela é favorável ao afastamento do atual presidente e à convocação de novas eleições.
A conclusão da deputada sobre a “crueldade” do presidente se originou do comentário feito nesta semana sobre Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, que é um desaparecido político desde 1974. “O que ele (Bolsonaro) está fazendo com a família Santa Cruz… Eu acompanho há décadas, sei da dor daquela família.” Erundina lembra que dona Elzita, mãe de Fernando, “resistia a mudar de casa e mudar o número do telefone fixo porque a cada chamada a coraçãozinho dela pulsava com a sensação de, quem sabe, viria uma notícia sobre o filho”. Elzita há morreu em 25 de junho, aos 105, sem saber do paradeiro de Fernando, preso em fevereiro de 1974 e nunca mais visto.
Erundina falou também sobre suas origens no sertão paraibano, sobre Paulo Freire, a resistência à “reforma” da Previdência em tramitação no Congresso e a necessidade de formação de uma frente ampla progressista, desde que não limitada “no plano do institucional”, mas consolidada na base social, da qual, avalia, os partidos se distanciaram. E comenta sobre a passagem do tempo. “Vivo plenamente o momento presente. É o sonho que me alimenta e me mantém jovem”, diz a deputada, que aos 84 anos afirma não querer “estender muito essa minha presença na luta”, para não “atrapalhar” a geração atual.