Jair Bolsonaro e Luciano Huck têm muito mais semelhanças do que diferenças.
Semelhança #1: Os dois adotam o discurso da negação da política partidária, mas, na prática, sempre estiveram ligados à política tradicional.
Bolsonaro troca de partido como trocava de coturno quando era militar — um mau militar, nas palavras do general Ernesto Geisel.
O partido a que se filiou para disputar a presidência é o minúsculo PSL, uma agremiação que tem servido de língua de aluguel em diferentes pleitos Brasil afora.
Seu presidente é Luciano Bivar, falido nos negócios nos anos 90 e bem sucedido como presidente do Sport.
Acumulou fortuna enquanto o clube, sob sua direção, negociava jogadores. Há cerca de quatro anos, confessou ter subornado a CBF para que o volante do Sport Leomar fosse convocado para a Seleção Brasileira, em 2001, quando Leão era o técnico e Antônio Lopes, o coordenador.
Por conta de sua atuação nos bastidores, ganhou o apelido de Eurico Miranda do Nordeste. Ao anunciar a filiação ao PSL, Bolsonaro explicou:
— O Bivar é de um partido pequeno. Ele sabe disso, não é maldade nenhuma. Dificilmente, o Bivar sozinho sobreviveria à cláusula de barreira. Eu, sem partido, também não seria candidato. Nós estamos fazendo um casamento.
Dirigindo-se aos repórteres, disse:
— Igual quando você casa com a Dona Maria. Vocês ganham e perdem também. Se vocês quiserem tomar cerveja e jogar futebol toda tarde, talvez ela não queira mais. Então a gente ganha e perde.
Em outras palavras, partidos não servem para nada.
Luciano Huck não é filiado a partido político ainda, mas sempre se deixou mostrar vinculado a Aécio Neves, o cacique do PSDB.
Frequentava as festas que Aécio realizava na Casa de Pedra, de sua prima, em Belo Horizonte, e de cerimônias oficiais, como a inauguração da Cidade Administrativa, na capital mineira, e a despedida de Aécio do governo do Estado.
Em 2014, um amigo comum, José Júnior, do AfroReaggae, postou a foto de Aécio e Huck juntos, com a informação:
“Quando o Aécio Neves me convidou para coordenar o programa de governo para juventude, a primeira pessoa que eu liguei foi o Luciano Huck, que me deu toda força e falou para que eu abusasse na ousadia das formulações ainda mais se o Aécio vencesse as eleições.”
No programa do Faustão, Huck desqualificou a política partidária:
“O que estou fazendo e vou continuar fazendo é tentar mobilizar uma geração inteira, que não importa da onde vem, a classe social, o credo, a religião, se é de direita, de esquerda, eu não acredito mais nisso, eu acredito nas pontes, na construção, não acredito mais na divisão, acredito na soma, o único jeito de resolver o país é somando. O que eu venho fazendo, e não queria fazer isso pelos partidos políticos, eu acho que eles estão derretendo, a gente tem que ocupar de novo. Então, eu optei por fazer isso pelos movimentos cívicos”.
Semelhança # 2: Bolsonaro e Huck falam de corrupção como se fossem vestais no lupanário. Na realidade, não é bem assim.
Bolsonaro está na lista de Furnas, o esquema de corrupção que desviou recursos da estatal para um grupo de políticos liderados por Aécio Neves, na eleição de 2002. A autenticidade da lista, elaborada pelo ex-diretor de Furnas, Dimas Toledo, foi confirmada pela perícia da Polícia Federal, mas até hoje ninguém foi punido pelo desvio.
Luciano Huck foi acusado de se apropriar de uma faixa do mar em Angra dos Reis, inventando um projeto de maricultura para impedir a aproximação de turistas à sua ilha particular. Para não se condenado, fez acordo com o Ministério Público Federal e foi obrigado a pagar uma indenização a uma ONG com atuação no meio ambiente e a frequentar algumas de suas reuniões.
A diferença entre os dois é de estilo.
Huck já assinou artigo em que reclamou da violência, quando teve um Rolex furtado em São Paulo. E conclamou os cidadãos de bem a uma campanha para encontrar solução. Não cogitou mudanças estruturais para melhorar a distribuição de renda.
Bolsonaro é mais franco, mas no fundo ambos querem a mesma coisa. O militar da reserva defende o armamento da população e carta branca para os policiais agirem — o que significa matar ainda mais.
Tanto Bolsonaro quanto Huck surfam na onda que surgiu do casamento da Globo com a Lava Jato. A pretexto de combater a corrupção, essa aliança procura destruir a política. Ambiente perfeito para a eleição de um outsider, alguém que pareça não ter nada ver com a coisa.
São arremedos de construção erguida sob os mesmos alicerces podres.
Luciano Huck é a aposta da direita para vencer Lula, já que o ex-presidente, ao contrário do que dizem analistas como Merval (da Globo), vence fácil Bolsonaro. Luciano é o mesmo que Bolsonaro, mas parece diferente. Um Doria versão nacional.
Como ocorreu em São Paulo em 2016, a intenção é enganar o Brasil em 2018.