Originalmente publicado em FACEBOOK
Por Paulo Moreira Leite
Mesmo sabendo que nunca se deve esperar uma reação decente por parte Jair Bolsonaro, a resposta presidencial diante assassinato de João Alberto Siqueira Freitas supera qualquer expectativa.
Longe de demonstrar empatia — mesmo protocolar — pelo sofrimento de um cidadão massacrado em praça pública, asfixiado numa poça de sangue por um grupo covarde de seguranças, Bolsonaro aproveitou a oportunidade para criticar e ameaçar brasileiros e brasileiras que foram as ruas manifestar sua indignação.
“Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos”, escreveu, como se os protestos contra o crime de Porto Alegre fossem parte de uma operação oculta contra o grupo Carrefour, um dos maiores do mundo .
“Não existe cor da pele melhor do que as outras”, acrescentou Bolsonaro, sugerindo que uma reação de indignação pudesse confundir-se com a defesa de qualquer tipo de privilégio.
Tentando perfilar-se em torno do já esfarrapado mito da democracia racial, um dos pilares ideológicos da desigualdade brasileira, Bolsonaro ensaiou uma nova versão da tese “Não existe racismo no Brasil”, repisada com especial infelicidade pelo vice Mourão.
Com uma argumentação que combina a Casa Grande de Gilberto Freyre com o individualismo agravado pelos tempos de neoliberalismo selvagem de Paulo Guede, Bolsonaro argumentou:
— Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença.
Num país onde pretos e pardos — 53% da população — constituem 75% dos mortos em ações policiais, é obvio que o Estado que Bolsonaro preside não é daltônico, a começar pelas forças policiais, cultivadas com grandes mordomias e muito pão-de-ló, num tratamento de quem tenta garantir a sobrevivência a frente do Estado de qualquer maneira.
Novo ponto de resistência contra uma sitiuação geral de opressão e perda de direitos, o corpo estendido numa poça de sangue em frente ao Carrefour é parte da luta contra o racismo, contra o governo Bolsonaro.
Alguma dúvida?