Bolsonaro é o presidente que incentiva porradas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 24 de agosto de 2020 às 12:01
Jair Bolsonaro. Foto: CARL DE SOUZA/AFP

A ameaça de Bolsonaro ontem ao repórter Daniel Gullino, do Globo, poderia ser feita de várias formas. Mas Bolsonaro tinha de ser Bolsonaro ao anunciar que gostaria de encher a boca do jornalista com uma porrada.

Saiu pela boca do repórter o que Bolsonaro não queria ouvir: a pergunta incômoda sobre o que ele teria a dizer a respeito dos depósitos de Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama.

A resposta a uma boca atrevida, que pergunta o que o perturba, é a frase que agrada aos bocas-sujas. Bolsonaro ameaça distribuir porradas porque precisa calar os perguntadores e falar para o núcleo duro da sua base, que além de violenta é bagaceira.

Bolsonaro parece ter ficado cordial, por estar politicamente acuado, como ficou logo depois da prisão de Queiroz, mas de repente se reaproxima do ‘lastro social’ amoral que o levou à presidência e sustenta seus desmandos.

É uma base estreita, mas fiel e estridente (o resto apenas foi junto na eleição, com o fim dos tucanos, e usa Bolsonaro até hoje para fazer o serviço sujo da direita).

Essa base social identificada com a extrema direita, constituída em sua maioria por ricos e pela classe média ressentida, gosta de blefar de forma agressiva.

É provável que esse pessoal tenha aplaudido Bolsonaro na ameaça ao jornalista e que a popularidade do sujeito tenha aumentado.

Boa parte dos bolsonaristas quer sair na porrada com seus discordantes. Querem comprar mais armas. A polícia bolsonarista quer impunidade para matar negros e pobres.

Porrada deve ser uma das palavras mais pronunciadas nas frases de um bolsonarista. Porrada em esquerdista, em quem acredita na pandemia, em quem usa máscara, em jornalistas perguntadores, em médicos que morrem salvando gente nos hospitais.

Os bolsonaristas já invadiram UTIs, incentivados como fiscais de Bolsonaro, para dar porradas em enfermeiras. Eles dão porradas em quem estiver por perto. Distribuem porradas nas redes sociais.

O bolsonarista agressivo e boca-suja quer guerra com a Venezuela (desde que ele não participe), torce pelos grileiros da Amazônia, despreza a morte de índios, deseja a destruição da universidade pública e tem certeza de que Flavio Bolsonaro ficou rico vendendo chocolate.

Bolsonaro é apenas o líder deles e não existiria se não tivesse apoio incondicional dessa gente. Bolsonaro é a excrescência no cargo mais importante do país. É o líder que fala o que sua base quer que diga. Os fascistas adoraram a agressão de ontem.

Mas, mesmo que ele continue se incomodando, é preciso continuar perguntando: por que o miliciano Fabrício Queiroz depositava mesadas na conta de dona Michelle?