Publicado nos Jornalistas pela Democracia
Por Denise Assis
O agravamento do estado de saúde de Bolsonaro caminhou na mesma proporção do aumento da temperatura política. A internação acontece num dia em que o depoimento eivado de incoerências da diretora de medicamentos da Precisa, Manuela Medrades, torna mais próxima do Planalto a crise da compra de vacinas indianas da Covaxin.
No meio militar, a turbulência surpreende os comandos que guardam entre si posições divergentes. O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior, fechou a semana passada com ameaças ao país, dizendo que não haverá uma segunda nota em tom tão estridente quanto agressivo – como a que assinou juntamente com o ministro da Defesa, Walter Braga Neto e os comandantes do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o almirante de Esquadra Almir Garnier Santos, da Marinha. Sua posição radicalizada foi seguida pelo almirante. Enquanto isto, o comandante do Exército, faz saber entre os seus, que não apoiaria um golpe de modo algum.
Os meios militares estão em efervescência com os trabalhos da CPI da Covid-19. Eles são avessos a qualquer Comissão que se atreva a investigar algum dos seus. Foi assim em 2016, quando elencaram entre os motivos para trabalharem pela queda da presidente Dilma Rousseff, a criação da Comissão Nacional da Verdade. Agora, se contorcem de indignação, vendo coronéis se revezarem na mesa do Senado, como depoentes sobre suspeitas de corrupção na compra de vacinas. Para agravar ainda mais o quadro, os trabalhos da CPI apontaram, inclusive, para a possibilidade de participação da primeira-dama, Michelle.
Bolsonaro foi internado na madrugada desta segunda-feira, no Hospital das Forças Armadas (HFA), com fortes dores abdominais. Na tarde desta quarta-feira, (14), foi transferido para São Paulo, com o diagnóstico de “obstrução abdominal”. A deputados da ala governista, o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), segredou que a situação do pai é “delicada”. Ainda assim, ele não se licenciou do cargo, deixando a administração do governo aos cuidados do ministro Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil.
Apesar do quadro médico de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão embarcou para Angola. Mourão, que é o primeiro na linha sucessória caso Bolsonaro precise ser afastado, irá representar o Brasil em uma reunião da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que já estava marcada.
Os canais de TV tentaram passar um clima de tranquilidade na situação médica de Bolsonaro, que antes de viajar recebeu a visita do arcebispo militar. Quem o acompanhou como familiar até São Paulo, aonde chegou por volta das 18h55, foi o filho Carlos Bolsonaro. Michelle não estava presente.
A obstrução intestinal é caracterizada como a interrupção do funcionamento normal do intestino devido a um bloqueio que impede a passagem de fezes e gases pelo órgão. As causas são diversas, incluindo tumores, inflamação, verminoses e efeitos de cirurgias. Entre os sintomas estão inchaço e dor abdominal, náuseas e vômitos, dificuldade e dor para evacuar.
Após ser transferido de Brasília em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), Bolsonaro foi encaminhado ao hospital Vila Nova Star, onde passará por exames e avaliação médica.
Sua recusa em se licenciar do cargo, faz com que o país fique acéfalo. Mourão não terá condições de voltar rápido ao país em caso de urgência. O avião em que viaja tem que fazer escala em Cabo Verde, o que alonga ainda mais a viagem. O terceiro na linha de sucessão, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, está impedido de assumir o cargo, pois responde a processo no STF. Nesse caso, o nome a suceder a Bolsonaro é Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado.
Enquanto a indefinição prevalece, seguem as notícias de que por enquanto a cirurgia é apenas cogitada, quando o que se supõe é que ela já deve ter sido definida, pois se a obstrução é grave, o indicado é que ela aconteça a qualquer momento. Antes de seguir para São Paulo, Bolsonaro agiu como Bolsonaro. Usou a sua situação para politizar a doença nas redes sociais.