Jair Bolsonaro voltou a mentir hoje, ao falar para seus seguidores no curralzinho do Alvorada. Dedo em riste, em resposta a uma mulher que reclamou das ações legítimas do STF, declarou:
“1970, eu já estava na luta armada e conheço tudo o que está acontecendo no Brasil. Você está falando respeitosamente comigo, eu sei disso. Mas tem gente que nasceu quarenta anos depois do que eu vivi e quer dizer como devo governar o Brasil. Estou fazendo exatamente o que tem de ser feito. Eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. Isso está a olhos vistos. O ocorrido no dia de ontem, quebrando sigilo parlamentar, não tem história disso numa democracia por mais frágil que ela seja”.
Primeiro: em 1970, Bolsonaro tinha 15 anos de idade e não há registro confiável de que tivesse participado de alguma ação de repressão à luta armada.
Bolsonaro já tentou embutir em sua biografia a lenda de que seria um tal de “menino sabido”, que ajudou na investigação sobre a deserção do capitão Carlos Lamarca do Exército.
Os dados não batem. O suposto “menino sabido” é de Itapecerica da Serra, 210 quilômetros distante da cidade em que Bolsonaro morava, Eldorado, no Vale do Ribeira. E tinha 10 anos de idade.
Bolsonaro também conta que estava na escola quando o grupo de Lamarca trocou tiros com policiais militares em um posto de combustível na cidade. Segundo ele, por orientação da diretora do colégio, ele e os demais alunos tiveram que se rastejar pela cidade para fugir das balas.
Outra mentira. A troca de tiros foi às 9 horas da noite aproximadamente. E não havia aulas noturnas no colégio onde Bolsonaro estudava.
Para os bolsominions do curral do Alvorada, vem a calhar o versículo bíblico que Bolsonaro gosta de usar, o 32 do capítulo 8 de João:
“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”.
A outra mentira que contou para a plateia do curralizinho na manhã de hoje é sobre o suposto ineditismo da quebra de sigilo de parlamentares.
Aécio Neves, parlamentar, já teve o sigilo quebrado, Eduardo Cunha, que foi presidente da Câmara, também já teve, bem como dezenas de outros parlamentares investigados com autorização do Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro e a verdade não se misturam, como até o TSE já sabe, mas esse surto mais recente de mentiras parece relacionado a uma situação de desespero.
Como disse Reinaldo Azevedo em sua coluna hoje, Bolsonaro teme uma delação premiada entre seus aliados mais próximos, investigados em dois inquéritos que correm no STF.
Está desesperado.
Sara Fernanda Giromini, que está presa, é apenas a parte visível de um esquema criminoso destinado a pedir o livre funcionamento dos poderes da república, no caso STF e o Congresso Nacional.
Por trás dela e de outros milicianos, está Bolsonaro, que entende de terrorismo. Em 1987, respondeu a um inquérito policial militar por planejar atentados a bomba no Rio de Janeiro.
Na investigação, seu comandante, o coronel Carlos Alfredo Pellegrino, o definiu com essas palavras:
“Tinha permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos“.
Características que o Brasil conhece bem hoje.
Bolsonaro é um mentiroso que se apresenta como Messias.
Muitos que acreditaram nele já se arrependeram, como mostram as pesquisas.
Se levar adiante suas ameaças veladas, é possível que conte com apoio apenas de um cabo e um soldado, além do Hélio Negão, suboficial da reserva, hoje deputado federal.