Publicado originalmente no blog de Jeferson Miola
Por Jeferson Miola
Em Roraima, durante escala desnecessária do vôo aos EUA para se reunir com seu patrão imperial que ameaça com plano de agressão militar à Venezuela, o subserviente Bolsonaro fez gravíssimo ataque aos poderes de Estado do Brasil.
Discursando para uma claque bolsonarista montada na Base Aérea de Boa Vista, Estado de Roraima, Bolsonaro primeiro se vitimizou, dizendo ter sido chantageado com uma “facada no pescoço” no próprio gabinete presidencial “por pessoas que não pensam no Brasil, somente neles”.
Ele fez esta afirmação, porém, sem identificar quem seriam os eventuais chantagistas e sem mencionar as providências de Estado que seriam exigíveis em caso de atentado à instituição presidencial – caso isso de fato tivesse acontecido, mas que não parece ser o caso deste mentiroso contumaz.
Em seguida, e usando subliminarmente a auto-vitimização como álibi, Bolsonaro então conclamou sua matilha fascista a comparecer aos atos de 15 de março.
Ao atiçar sua matilha contra o Congresso e o STF, Bolsonaro evidenciou seu envolvimento direto e pessoal na promoção de um ato ilegal e claramente inconstitucional, convocado com o propósito de emparedar os poderes legislativo e judiciário.
Depois de 26 de fevereiro, data em que Bolsonaro replicou o vídeo da convocatória do protesto de 15 de março, o caráter ditatorial do evento ficou bastante evidente nas fotos de pinturas no asfalto pedindo “intervenção militar já” divulgadas nos últimos dias.
Com seu gesto, portanto, Bolsonaro deixou cabalmente desmascarada a mentira de que ele tão somente teria repassado por “WhatsApp pessoal” [sic], para um “limitado número de contatos” [sic], o vídeo de convocação dos atos que, de acordo com indícios já reunidos, pode ter sido idealizado e produzido pelo próprio governo e no Palácio do Planalto.
O ataque do Bolsonaro ao Congresso e ao STF adquire, contudo, maior gravidade em razão do seguinte contexto:
o Airbus da FAB utilizado pela Presidência do Brasil tem autonomia para percorrer uma distância de 8.500 km;
o vôo à Flórida, para se encontrar com Trump, poderia ser feito diretamente, sem escalas, porque a distância entre Brasília e a Flórida é inferior a 6.100 km;
caso fosse necessário realizar uma escala técnica, por critérios técnicos esta parada seria na Cidade do Panamá, após consumo ponderável de combustível; mas jamais ocorreria em Boa Vista/Roraima, que está distante apenas 2.498 km de Brasília;
é bizarro que a Base Aérea de Boa Vista tenha sido ornamentada com uma claque bolsonarista e com palco armado para ouvir um pronunciamento do Bolsonaro durante uma mera escala técnica – desnecessária – para abastecimento do avião presidencial.
É possível aduzir que Bolsonaro, em vista disso tudo, premeditou o ritual de vôo para, de modo dissimulado, agredir o Congresso e o STF. Ele escolheu deliberadamente mandar uma mensagem de confrontação, ameaça e intimidação aos demais poderes de Estado. E fez questão de expressar isso ainda em território nacional, na “última – e desnecessária – escala” [sic].
A partir de agora, portanto, é inaceitável continuar-se aceitando a tergiversação de quem não tem o menor compromisso com valores democráticos e que, ao contrário disso, quer impor um regime totalitário.
Não se trata apenas de endurecer o discurso para simular ou aparentar ao monstro Bolsonaro uma reação que está longe de ser efetiva. Bolsonaro só entende a língua da força, do poder.
A hora é de ação; é preciso agir urgentemente. A única ação aceitável é a cassação do Bolsonaro por crime de responsabilidade, porque ele atentou contra a ordem política e social e porque ele faz tudo para destruir o pouco que ainda resta do Estado de Direito para implantar um regime ditatorial.
Bolsonaro emparedou o Congresso e o STF e avançou no seu plano ditatorial. Ele fez isso com consciência. Ou Bolsonaro é afastado por crime de responsabilidade, ou haverá ditadura.
Assim como na Alemanha dos anos de 1930, o nazi-fascismo foi se naturalizando e se impondo como um “novo normal” porque a gente da época sempre se iludia que era impossível ficar ainda pior do que já estava. Esta ilusão, repetida hoje, será trágica.
É preciso agir urgentemente, antes que seja tarde demais. E antes que a barbárie seja ainda maior.
É cada vez mais claro que só a insurgência popular será capaz de deter o avanço rumo ao precipício fascista.
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Obs.: vale registrar que esta é a 4ª visita do Bolsonaro aos EUA nos últimos 15 meses – um recorde absoluto em relação aos demais chefes de Estado brasileiros em igual período de tempo. Com um detalhe: a viagem somente foi noticiada na ante-véspera e sem agenda conhecida. Foi divulgado que o encontro acontece a pedido do Bolsonaro, o que precisa ser esclarecido.