Uma pesquisa qualitativa feita pela Casa Galiléia, conduzida pelo cientista político Vinicius do Valle e divulgada pelo Pulso, do jornal O Globo, apontou que os eleitores evangélicos também têm críticas a fazer sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), apesar dele lidar as intenções de voto no segmento religioso.
De acordo com o levantamento, os evangélicos de maneira geral não simpatizam com o uso político das igrejas. “Existe um cansaço e uma reprovação da propaganda política eleitoral nas igrejas. Isso é mais forte entre o eleitor que está indeciso e o do Lula. Mas mesmo o bolsonarista evangélico não vê com bons olhos o uso das igrejas para propaganda política”, explica Valle, que é diretor do Observatório Evangélico.
Uma das pautas levantadas pelo atual chefe do governo, a armamentista, também é considerada incompatível com os princípios cristãos do ponto de vista da maior parte dos religiosos, embora alguns poucos defendam a liberdade do porte de arma. O jeito do ocupante do palácio do planalto, considerado grosseiro, sua falta de sensibilidade com os pobres e a postura negacionista que adotou durante a pandemia da Covid-19 também pesam contra ele.
Os próprios bolsonaristas, apesar de considerarem o presidente autêntico e representante dos valores bíblicos, admitem que o candidato à reeleição não mede palavras e pode gerar situações constrangedoras e ofensivas a outras pessoas. A defesa do homeschooling e a falta de prioridade à pauta ambiental são mais dois temas que não ajudam Bolsonaro.
Apesar de não terem a capacidade de generalizar seus resultados, as pesquisas qualitativas expõe sentimentos dos eleitores que os levantamentos quantitativos não mostram, ajudando a entender o comportamento do eleitor e o que está por trás da escolha de seu voto.
A pesquisa da Casa Galiléia foi realizada entre os dias 24 de junho e 15 de julho e observou três perfis de eleitores: bolsonaristas, que votaram em Bolsonaro em 2018 e vão optar por ele novamente nas eleições de outubro, indecisos e “bolsolulas”, que votaram em Bolsonaro em 2018 e estão indecisas ou decididas a votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“As pessoas também relatam que a suas vidas pioraram e que a economia do Brasil não vai bem, mesmo o fiel bolsonarista”, afirma Vinicius do Valle”. “A grande diferença, nesse caso, é que o eleitor que pensa em votar no Lula acredita que Bolsonaro é culpado pela crise econômica, enquanto o evangélico bolsonarista atribui a culpa à pandemia, guerra na Ucrânia e boicote que o presidente sofre, principalmente da mídia, mas também do Judiciário”.