Encontre a palavra suficientemente forte e adequada para definir o que aconteceu hoje em Brasília. Um dia antes da sessão do Supremo que pode deliberar sobre a libertação de Lula, Bolsonaro chama ao Planalto os ministros Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes.
Chama os ministros, e os três correm ao palácio. Quem mais Bolsonaro teria chamado e que pode ter decidido não ir?
Alguém acredita que, se fosse chamado, Celso de Mello iria?
Bolsonaro teria coragem suficiente para chamar Celso de Mello e Marco Aurélio?
É esdrúxula a situação de um país em que, na véspera de uma decisão que pode atormentar o bolsonarismo, os juízes da Suprema Corte vão ao encontro do maior interessado no que eles irão decidir.
Que imunidade têm os juízes do STF para, nessas circunstâncias, encontrarem-se com o chefe de uma família envolvida em investigações (paralisadas por ordem da mesma Corte), que tudo tenta fazer para proteger seu clã e ao mesmo tempo manter Lula na prisão? E um deles é o presidente da Corte.
Os ministros podem não ter falado nada sobre o processo da prisão em segunda instância. Mas falaram do quê, se o próprio Planalto não revela o que foi tratado?
Por que Toffoli e Moraes foram recebidos juntos? Por que Mendes teve uma audiência em separado? Por que uma reunião logo agora?
Por que esses três? Por que o STF passa para o país a ideia de que Bolsonaro submete os ministros à sua agenda e aos seus interesses?
Tudo pode acontecer, desde que Bolsonaro seja o protagonista e, mais uma vez, juízes do Supremo sejam os coadjuvantes. E no mesmo dia em que o general Eduardo Villas Bôas volta a ameaçar, pelo Twitter, agora com o risco de “eventual convulsão social”.
Mesmo sob pressão, os ministros não deveriam ter ido ao palácio. Foram e pagarão o custo de terem ficado expostos. Um dia saberemos sobre os que receberam a ordem de ir ao encontro de Bolsonaro e se negaram a aceitar o ‘convite’.
Um dia saberemos muita coisa, e esse dia pode estar logo adiante.