Publicado originalmente no site Jornalistas pela Democracia
POR DENISE ASSIS
Depois de se reunir com cerca de 20 empresários na noite de ontem, em São Paulo, Bolsonaro esteve na manhã desta quinta-feira (08/04) com generais recém-promovidos. A movimentação dele tem a ver com os números da recente pesquisa XP-Ipespe, em que aparece tecnicamente empatado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e com indicações de que no segundo turno da eleição de 2022 ele perderia para Lula. A mesma pesquisa aponta que 60% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo o seu desempenho à frente do combate à pandemia que já matou 340 mil pessoas no país. Aos generais, disse que o país vive fase “um tanto ou quanto imprecisa”, e por isto precisaria da “estabilidade” que as Forças Armadas representam para a nação, atuando dentro dos limites “das quatro linhas da Constituição”. Atuação, esta, que traduziu em um pedido de um “plano de contingência”.
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Os empresários que jantaram com Bolsonaro, ontem (07/04), pertencem basicamente ao ramo de investidoras, bancos e área de segurança, segmentos tradicionalmente reacionários, que aumentaram seus lucros na pandemia. Negócios próximos ao ministro da economia Paulo Guedes, em situação fragilizada graças aos ínfimos resultados que vem obtendo e principalmente aos erros apresentados no orçamento, de onde foram retirados R$ 26 bilhões, de despesas obrigatórias, a serem destinados a emendas parlamentares.
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Não é de se admirar que Bolsonaro e Paulo Guedes saíssem do jantar – onde não se usou máscaras – aplaudidos e incensados. Ambos representam a continuidade de lucros para estes setores específicos, que pouco ou nada têm a ver com o bem-estar da população. Distantes do populacho, caminhando por alamedas de belo jardim, fica mesmo impossível tratar de “intubados” e miseráveis. Melhor acenar com apoio ao que está “dando certo” do ponto de vista desses senhores.
Com a autoestima elevada pela bajulação de ontem, e ciente de que a movimentação de militares, num país traumatizado por uma ditadura que oprimiu o povo brasileiro por mais de 20 anos, assusta, Bolsonaro hoje encena mais uma de suas pantomimas. Solicita aos generais de plantão o tal plano contra possíveis “distúrbios sociais”. É bom que estejamos todos cientes e preparados para o fato de que se estes “distúrbios sociais” acontecerem, estarão obedecendo a um script que está apenas na cabeça de Bolsonaro.
Não existe organização no campo progressista que leve a uma situação de conflito. Os que têm consciência da dramaticidade do momento estão em casa, cuidando da própria saúde e de proteger suas famílias do risco do vírus de quem o Estado não os protege. Os que não têm o que comer, estão enfrentando filas, sob o risco de contágio, para buscar alimentos em centros de doações, que compensem a miséria de auxílio que seu governo destinou aos que não têm como ganhar a vida para colocar comida na mesa.
Mais uma vez, Bolsonaro usa o Exército como “fantasma” para assustar e oprimir a população, já apavorada diante da iminência da morte. Cria uma fake news perigosa, prevendo distúrbios, revoltas e inimigos imaginários tais como os moinhos de vento que Cervantes idealizou, para guerrear com o seu cavaleiro andante, D. Quixote. E, mais uma vez apropriou-se do que não é seu. O Exército, de onde saiu escorraçado, com a patente de capitão, tendo que negociar a “não expulsão”, dado que foi um “mau militar”, na definição dos seus superiores.
“O nosso Exército, tradição, o nosso Exército de respeito, de orgulho, bem como reconhecido por toda nossa população, representa para o nosso Brasil uma estabilidade. Nós atuamos dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Devemos e sempre agiremos assim. Por outro lado, não podemos admitir quem, porventura queira sair deste balizamento”, discursou, complementando que o país vive “uma fase um tanto ou quanto imprecisa”.
Imprecisa foi a sua fala. Impreciso são os números de mortos que o seu governo apresenta, subnotificados, para escamotear a sua incapacidade de gerir o drama nacional, a onda de reprodução de novas cepas, a deficiência dos hospitais públicos e privados, que já não dão conta de atender ao surto de Covid-19 que ele deixou explodir.
Por fim, arrematou sua fala com o discurso precário, cantochão, com cara de capa de caderno de aula de Moral e Cívica, que é o máximo que sabe fazer: “Mas temos a certeza de que, pelo nosso compromisso e tradição, sempre teremos como lema a nossa bandeira verde e amarela, e a perfeita sintonia com os desejos da nossa população.” E prosseguiu, delirante, prevendo distúrbios que poderiam ocorrer não apenas por “necessidade” (devido ao agravamento da situação econômica), mas também por “maldade”.
O que a população deseja, e fica cada vez mais claro para todos é um só gesto: fora Bolsonaro! Não temos medo dos fantasmas que você tenta nos impingir, você, sim, com a sua maldade. O Exército que você chama de “seu”, jamais vai se colocar contra um povo pobre, faminto, doente. Resta dignidade no comando das Forças Armadas para entender que a hora é de assistir, acolher, e não matar e reprimir. Este serviço sujo você já faz. Resta aos que juraram amor à pátria, cujo nome você usa em vão, proteger os brasileiros, jogados à própria sorte pelo seu governo.