Bolsonaro imobiliza Exército, ganha a PM e perde a classe média. Por Fernando Brito

Atualizado em 3 de junho de 2021 às 11:45
Bolsonaro com generais do Exército
Fernando Souza / AFP

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Enquanto o Alto Comando do Exército vacila sobre se deve dizer “ai, ai, ai” ou “feio e bobo” para o general Eduardo Pazuello, o “peixe” do Jair, o Exército de Bolsonaro dá cada vez mais sinais de que está engajado sem disfarces no projeto do atual presidente.

Hoje, narra a Folha, na formatura do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais de Polícia Militar de Brasília – adivinhem se Bolsonaro não estava lá… – o comandante da corporação, Márcio Cavalcante de Vasconcelos, e o coronel William Delano Marques de Araújo, comandante da Academia de Polícia, terminaram suas falas na solenidade com dois sonoros “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

Bordão e nome da chapa eleitoral de Jair Bolsonaro repetidos como brado em quartéis.

Ainda estamos, por sorte, dispensados da mão espalmada e erguida, por enquanto.

Importa pouco, agora, a Bolsonaro que esteja perdendo a classe média, ao rufar crescente das panelas que gritaram nas janelas dos prédios de apartamentos de todo o país. Mesmo para quem não as bateu, o som estridente foi o suficiente para ser a mensagem que marcou a fala presidencial e não vacinas, recuperação econômica ou Copa América que por ela desfilaram.

Com os comandos militares emasculados, a milícia policial dominada por ele é o bastante para a iniciativa de força.

Talvez se precise de mais do que um cabo e um soldado pois, além do Judiciário, também os renitentes comandos da ativa – se existirem – precisem de uma voz de prisão assemelhada, no caso remoto de quererem oferecer resistência a um Ministro da Defesa que, para assumir o comando formal, basta ir em casa, assoprar a poeira da farda no armário, pegar o rebenque e exigir obediência.

Se no desenho eleitoral, mostram todas as pesquisas e o barulho das ruas, está cada vez pior para Bolsonaro, o rosnar da imensa tropa armada, regular e irregular, ruge cada vez mais o seu nome.

Civis, nos governos dos Estados; generais na cúpula do exército, têm rapidamente de decidir se comandarão ou serão encurralados.

Luiz Costa Pinto, veterano jornalista, fala de um motim ocorrido no ano 2000, no Ceará, quando o tucano Tasso Jereissati era o governador e os amotinados ameaçavam invadir a sede do governo. Tasso chamou o comandante da PM e mandou que ele traçasse uma linha de cal nos limites da área do governo civil e pusesse guardas armados atrás dela.

“Até a linha, coronel, evite o conflito. Passando dela, mande atirar.”

Parece estar faltando cal.