Publicado originalmente no Facebook de Luis Felipe Miguel
A família Bolsonaro comprou, ao longo de 30 anos, 51 imóveis pagando um total de 26 milhões de reais em dinheiro vivo.
Confrontado à informação, Bolsonaro mentiu – que surpresa! – dizendo que um ex-cunhado era responsável pela compra de mais da metade dos imóveis.
Não é. Ele não responde nem pela metade da metade dos casos. Mesmo que fosse, ainda sobraria muita coisa pro resto do clã explicar.
Deveria ser a bala de prata contra um político que tem no “combate à corrupção” seu último ativo discursivo.
Mas parece que não há grandes abalos. As redes bolsonaristas optaram pelo silêncio sobre o caso. E continuam gritando “Lula ladrão” a plenos pulmões.
Lula, investigado, processado e, enfim, condenado em processos farsescos, foi inocentado. Bolsonaro, sobre quem pesam evidências muito mais fortes, evita as investigações a todo custo.
Na verdade, o combate à corrupção raras vezes é o elemento real das opções políticas. Em geral, é uma fachada para motivações que são consideradas menos aceitáveis em público.
O antipetismo não se alimenta da ojeriza à corrupção. Se não, não teria abraçado nomes como Aécio, Moro e Bolsonaro.
Seu foco é a defesa de hierarquias sociais que via ameaçadas pelo pequeno avanço igualitário dos governos de Lula e Dilma – hierarquias de classe, de gênero, de raça, regionais e outras.
O tema da corrupção é mobilizado seletivamente. Quando convém, como é o caso do clã Bolsonaro, pode ser simplesmente ignorado.
A grande imprensa, enfim, dá ao tema um destaque muito menor do que deveria.
O contraste com a cobertura dada aos escândalos, verdadeiros ou falsos, envolvendo o PT é gigantesco.
É que interessa aos neodemocratas e neoantibolsonaristas: manter Lula acuado. Isso garante que seu governo evitará enfrentamentos. E a associação entre corrupção e PT é o instrumento primordial dessa estratégia.