Bolsonaro, o primário, acha que vacina é “relação de consumo”. Por Fernando Brito

Atualizado em 28 de dezembro de 2020 às 18:16
Jair Bolsonaro e a vacina. Foto: Wikimedia Commons

Publicado originalmente no blog Tijolaço

POR FERNANDO BRITO

A declaração, hoje, de Jair Bolsonaro, de que o Brasil é um “mercado consumidor enorme” e que a responsabilidade de disponibilizar a vacina é do “vendedor”, e não dele, faz jus à estupidez do atual presidente da República e vem ao encontro de seu desinteresse em que o povo brasileiro seja vacinado contra a Covid-19.

Bolsonaro não entende que vacinação não é, para nós, uma questão de mercado – quais seriam as mercadorias, as vidas? – e que, ainda que fosse estamos num momento em que os que têm vacinas têm a faca e o queijo nas mãos e, portanto, entregam a vacina a que pagar e quiser fazer isso sem maiores problemas.

Os países ricos, cheios de “bala na agulha” – para falar a linguagem que o ex-capitão entende – compram duas, três e até mais vezes do que precisam e recebem, ainda assim, parcas quantidades das vacinas que puderam ser produzidas, porque exige investimento – e exigiu dinheiro dos governos – produzí-las.

Há demanda para meses e meses da produção e, portanto, quem quiser “criar caso” vai ficar de mãos (quase) abanando, até que a progressão inevitável da doença o faça vir pedir de joelhos que a vendam.

Se tivéssemos um homem de Estado à frente do país isso teria sido percebido há meses e, a esta altura, teríamos uma frente de países emergentes pressionando em conjunto os laboratórios. Mas não viu e, por isso, o Brasil está e estará só e vai mendigar vacinas logo, logo.

Entrar tarde e sem estratégia na selva de interesses de algo que, no mundo, mobilizará trilhões de dólares, é querer ficar de “otário”, à beira do jogo e vendo as pessoas morrerem.

Diplomacia, inclusive a diplomacia da vacina, faz-se com articulação, não com bravatas.