Bolsonaro odeia Raoni porque nunca terá o mesmo respeito internacional do cacique. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de setembro de 2019 às 8:54
Raoni e o Para Francisco

Entre o monturo despejado por Jair Bolsonaro na ONU, chamou atenção — e olhe que a briga é boa — a agressão a Raoni Metuktire.

Bolsonaro odeia o cacique caiapó.

Entre outras razões, porque não consegue admitir um índio, aquela gente desprezível que Jair já lamentou não ter sido eliminada, com o prestígio e o respeito internacionais que o capitão jamais terá.

Enquanto o presidente brasileiro, um pária no mundo, se pendura no saco de Donald Trump e colhe desprezo, Raoni disputa o Nobel da Paz de 2020.

Depois desse empurrão em Nova York de um boçal vingativo, ganhou mais alguns pontos na bolsa de apostas.

Bosonaro chamou-o, na tribuna, de “peça de manobra”.

“A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros”, declarou. “Acabou o monopólio do senhor Raoni”.

Aos 89 anos, Raoni ficou famoso defendendo a Amazônia pelo planeta. Apenas neste ano, esteve com Macron e o Papa Francisco.

Visitou também Bruxelas em maio, participando da Marcha pelo Clima. O primeiro-ministro de Luxemburgo doou 100 mil euros à Associação Forêt Vierge, presidida por Raoni.

Ele está na estrada há tempos. Virou uma celebridade em 1987, quando conheceu Sting.

Com o cantor, percorreu dezesseis países em campanha pela criação do Parque Nacional do Rio Xingu, homologado em 1993 com 180 mil quilômetros quadrados entre Mato Grosso e Pará.

Macron e Raoni

Protestou contra a construção de barragens como a Usina de Belo Monte, autorizada por Dilma.

Ressentido e invejoso, Bolsonaro não perdoa a grandeza de Raoni.

Prefere a submissão da mascote que levou para Nova York, Ysani Kalapalo, uma youtuber desmiolada que chama o chefete de “guerreiro”.

Raoni é de outra liga.

Em um vídeo publicado no mês passado, criticou a política socioambiental, se é que se pode chamar assim, do governo.

“Eu conheci muitos chefes de Estado por mais de 60 anos. Eles falaram comigo, eles me consideraram. A gente pôde discutir”, disse.

Raoni é o oposto do imbecil beligerante que deu vexame nas Nações Unidas: um símbolo do Brasil prestigiado e bem recebido aonde quer que vá.

Para um sujeito que não consegue usar colete cirúrgico por baixo da camisa e provoca repulsa em qualquer lugar fora de seu círculo de idiocratas, é inaceitável.