Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia:
Por Moisés Mendes
Dizer que Bolsonaro perdeu o controle, como os jornais disseram depois do ataque de nervos do sujeito nessa segunda-feira, é uma redundância. Bolsonaro está permanentemente descontrolado e sob ataque de nervos.
O que Bolsonaro perdeu foi a confiança. Bolsonaro não atacou a imprensa na entrevista de improviso em Guaratinguetá porque desejava mandar mais um recado à Globo.
É mais grave. Bolsonaro está pedindo socorro, sem saber direito a quem. O sujeito sentiu o abalo de dois fatos que o fragilizaram mais do que os estragos da CPI do Genocídio.
O primeiro foi o desfile de motos do dia 12 em São Paulo. Disseram a Bolsonaro, e ele acreditou, que 1 milhão de motoqueiros o seguiriam na motociata.
Mas Bolsonaro encerrou o desfile, subiu num caminhão e ficou diante de uns mil e poucos motoqueiros. Quando voltava para casa, no avião, leu no celular que haviam participado da festa entre 10 mil e 12 mil militantes.
Três dias depois, amanheceu com as manchetes que davam o número exato, registrado no sistema de monitoramento da Rodovia dos Bandeirantes: eram apenas 6.661 motos, algumas com o piloto e um carona. Mas eram, enfim, somente 6.661 motos.
A Romaria ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, na região serrana gaúcha, atrai entre 20 mil e 40 mil motoqueiros.
Bolsonaro sabe que suas motociatas, no Rio e em São Paulo, foram um fracasso e que a eureka dos desfiles com motoqueiros de extrema direita não deu certo. A autoestima de aglomerador está abalada.
As notícias ficaram ruins e não há nem ensaio de notícia boa no Planalto. No final da tarde de domingo, as redes sociais bolsonaristas anunciavam que as manifestações do 19J haviam sido fracas.
Mas Bolsonaro não se informa pelas redes sociais que o bajulam, ou cometeria o erro de ser enganado por seus adoradores gratuitos e pagos.
Bolsonaro usa as redes apenas para repetir as mentiras. Ele ficou sabendo no domingo mesmo que desta vez os movimentos sociais e as esquerdas haviam levado mais gente às ruas do que no dia 29 de maio.
Bolsonaro acordou na segunda-feira e foi para o cercado do Alvorada já fragilizado. Tentava, mas não conseguia fingir que ignorava as 500 mil mortes do genocídio. Foi ríspido com um caminhoneiro que reclamou atenção à categoria.
Viajou para Guaratinguetá, para a festa de formatura de sargentos da Aeronáutica, pensando nos seus fracassos, no editorial de William Bonner no sábado no Jornal Nacional e nos próximos danos da CPI com o depoimento de seu conselheiro Osmar Terra.
Quando mandou a repórter da Globo calar a boca e tirou a máscara, no ataque de fúria após a formatura dos sargentos, Bolsonaro não estava representando. Estava avisando: na próxima, algo pior pode acontecer.
Bolsonaro ataca até seus assessores e, no impulso, está a um passo de cometer um gesto mais agressivo. Parece não controlar a gritaria que o mantém colado ao seu público.
O país é desgovernado por um sujeito fragilizado porque se sente mais acuado, que perdeu repertório e a capacidade de atacar e assim acabou perdendo a confiança.
Apagou-se a linha que separava o Bolsonaro valente do Bolsonaro inseguro. A demonstração de excesso de valentia e agressividade é a denúncia da sua desproteção.
A Globo, disse ele, está destruindo a família e a religião. É uma fala desesperada. Nem os mais fiéis e reacionários pastores neopentecostais acreditam nessa tática. O artista já não consegue controlar a própria performance.
As circunstâncias nunca foram tão desfavoráveis e podem piorar. Bolsonaro está pedindo ajuda. Daqui a pouco, nem o Centrão, depois de saquear os saqueadores, poderá ajudá-lo.