Leonardo Sakamoto
Com Jair Bolsonaro se enroscando nas investigações sobre o golpe de Estado que tentou dar entre o segundo turno de 2022 e o 8 de janeiro de 2023, e com o risco real de ser condenado e banido da política por 30 anos, ele precisa produzir imagens, no ato deste domingo (25), em São Paulo, para vender a ilusão de que a maioria do povo está ao seu lado.
Isso não vai afastar o ex-presidente do xilindró, mas deve ajudar a manter seu rebanho unido para as eleições de outubro.
Uma conhecida tática adotada por ele é usar imagens de aglomerações a fim de tentar convencer que o apoio a Jair é bem maior do que realmente é. Partem de um fato concreto (o ex-presidente é realmente uma pessoa popular capaz de atrair multidões) para vender uma extrapolação falsa (essas multidões demonstram que a maioria dos brasileiros está com ele).
Durante sua campanha eleitoral de 2018, fãs eram convocados para recebê-lo nos aeroportos das cidades por onde Bolsonaro passava. A suposta “surpresa” do candidato transmitia a ideia de que aquilo era um ato orgânico, quando não era de fato.
Além disso, o enquadramento das fotos e vídeos da aglomeração passa sempre a ideia de que seus atos são muito maiores do que a realidade. É uma mensagem poderosa mostrar um político ser recebido com pompas de músico ou jogador de futebol famosos.
Mesmo a escolha por motociatas teve, ao longo do seu mandato, um fator de ilusionismo, uma vez que você pode ocupar um espaço muito grande de rodovia de forma rápida e com menos gente que seria necessário para preencher uma passeata ou um comício. O que também produziu boas fotos que enganam.
Em junho de 2021, o bolsonarismo, já em plena campanha pela reeleição, vendeu que 1,3 milhão de motos participaram de um ato com Bolsonaro no interior de São Paulo. Porém, as praças de pedágio da Rodovia dos Bandeirantes mostraram a passagem de 6.661 motos.
Quando sequestrou o Bicentenário da Independência, em 7 de setembro de 2022, Bolsonaro encheu a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e a avenida Atlântica, no Rio. Imediatamente, sua equipe nas redes sociais passou a postar que essa era prova de que a maioria do povo brasileiro estava com ele. Mentira: o que as imagens mostravam era que ele era capaz de mobilizar seguidores.
De acordo com institutos de pesquisa, o bolsonarismo-raiz gira entre 15% e 20% da população, o que, repito, não é pouca gente – dá entre 30 e 40 milhões. Esse grupo está com ele em todos os momentos, até embaixo da chuva que o dia promete para a tarde na capital paulista. Historicamente, contudo, São Pedro tem se mostrado simpático à extrema direita no Brasil.
Sob o risco de ver sua liberdade e sua influência política se dissolverem, Jair organizou um único ato concentrado para trazer apoiadores de todo o país a São Paulo. Precisa de boas imagens para reforçar o padrão que vem adotando antes mesmo de ser presidente. Por isso, fotos e vídeos produzidos neste domingo irão circular pelos grupos de WhatsApp e de Telegram e pelas redes sociais, transmitindo a ideia de que o país está com ele.
E, consequentemente, que apoia suas pautas antidemocráticas. Mesmo que elas não sejam a tônica do ato pelo medo de Jair ser preso por incitação ao crime, o ato em si é uma grande passada de pano para uma tentativa de golpe, derramando cinismo ao vender como uma defesa do Estado Democrático de Direito.
Bolsonaro falará ao seu povo escolhido, o que é muita gente, mas exclui mais gente ainda que acha tudo isso coisa de desocupado.
Alheia a essas movimentações, a grande massa de trabalhadores está mais preocupada em tentar garantir a própria sobrevivência do que acompanhar os comícios do presidente pagos com recursos oriundos de líderes religiosos.
Para eles, Bolsonaro Golpista não diz muita coisa, ao contrário de Bolsocaro, Messias da Fome e Jair do Desemprego – que foram fundamentais para que perdesse a eleição.
E se a economia continuar crescendo, os juros e o desemprego caindo, inflação controlada e a renda subindo, o ex-presidente não terá força social para impedir que acerte as contas com a Justiça e com a democracia.
Originalmente publicado na coluna de Leonardo Sakamoto, no Uol
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