Não está sendo pouca a grita que o ex-presidente Jair Bolsonaro está fazendo por ter se desmanchado no ar o seu sonho de fazer do seu retorno ao Brasil uma festa apoteótica em louvor a sabe-se lá o que.
Derrotado nas urnas, com capital político fracionado (ainda que longe de ser desprezível) e com pelo menos 16 ações na justiça que podem render desde a sua inelegibilidade até a prisão, o desejo de uma chegada ao país em clima de comício atende basicamente aos esforços para se manter as aparências de ainda atual grande líder da oposição.
Mas no mundo real, no entanto, o facínora não tem muito o que comemorar.
Como se não bastasse os inúmeros crimes em que sua participação é tida como inequívoca, o advento da trilogia das joias surrupiadas na mão grande dão ao sujeito que já responde moral, ética, civil e criminalmente a uma série de atentados à democracia brasileira e à dignidade humana, um adicional de batedor de carteira à sua já extensa ficha corrida.
Bolsonaro sabe pelo que responde e, por isso mesmo, sabe até onde tudo isso pode chegar.
Dessa forma, ainda que resmungue pelo fato de ao invés de desfile em carro aberto ter que se contentar tão somente com a PF indo buscá-lo de dentro do avião direto para uma viatura que o deixará em local de sua escolha, sabe que se o judiciário que ora o acusa fosse um quinto daquele que há não muito tempo acusou Lula, seu destino seria outro.
Jair Bolsonaro não tem do que reclamar.
Se por um lado não terá a recepção que sonhou, por outro, também não terá a recepção que deveras merece.
Num Brasil mais justo, ao invés de relógios de ouro branco cravejados de diamantes, seus pulsos ostentariam algemas de bem menor valor comercial, mas simbolicamente mais caras para a urgente reconstrução democrática do Brasil.